Não somos especialistas em aviação (e esse nem é o objetivo do artigo), mas todos nós sabemos que para a decolagem de um avião, é preciso de uma pista de decolagem com espaço suficiente para que a aeronave atinja a velocidade mínima para alçar voo.
Quanto maior e mais pesado um avião, maior a pista necessária para atingir a velocidade de decolagem. Quando um avião grande e pesado precisa decolar em uma pista um pouco mais curta, terá que acelerar mais para chegar a velocidade de decolagem em um espaço menor e isso acaba, consequentemente, gerando um consumo extra de combustível e também maior desgaste da aeronave (que trabalha mais próximo aos seus limites).
A esta altura, ou você já entendeu completamente aonde queremos chegar com esse paralelo ou deve estar achando o texto totalmente maluco e sem nenhum alinhamento com os demais conteúdos que costumamos publicar aqui no Blog do Treasy, certo? Mas confie em nós, esta é uma alusão perfeita para começarmos a falar sobre a Gestão do Saldo de Caixa, também conhecido como Reserva de Capital ou Caixa de uma empresa.
Afinal, o que é Gestão de Caixa? Na Gestão Empresarial, o Saldo de Caixa de sua empresa representa o tamanho da pista de decolagem disponível que a companhia possui para “dar seus voos” e é quem dita o tom sobre o quão rápido as coisas (operação) precisam acontecer ou o quanto a empresa pode trabalhar com calma e tranquilidade. Descubra o que é Saldo de Caixa e como fazer sua gestão financeira para melhores resultados!
O que é Gestão do Saldo de Caixa?
Adotamos para este artigo o termo Gestão do Saldo de Caixa, mas, dependendo do ramo de atividade, também é comum encontrar literaturas utilizando sinônimos como: Gestão da Liquidez, Gestão de Disponibilidades, Gestão da Reserva de Caixa, Gestão da Reserva de Capital, Gestão do Fundo de Reserva, Gestão Financeira do Fluxo de Caixa, entre outros.
Mais importante do que discutirmos aqui o termo adotado, é entender o que é Gestão do Saldo de Caixa, seus conceitos e importância dentro da administração de qualquer empresa.
No livro Princípios de Finanças Empresariais, Brealey e Myers apontam 4 motivos para manutenção dos recursos em caixa na gestão:
- Transações: recursos mantidos no caixa para honrar compromissos tendo em vista o descompasso existente entre as saídas (pagamentos) e as entradas (recebimentos) de numerário
- Precaução: recursos mantidos líquidos no caixa como manutenção de uma reserva de segurança para fazer face a contingências;
- Especulação: recursos mantidos no caixa para aproveitar oportunidades de obtenção de descontos ou aplicações favoráveis.
- Reciprocidade bancária: recursos mantidos em contas correntes para atender a exigências de alguns bancos como compensação por serviços prestados.
Em resumo, a Gestão do Saldo de Caixa é a disciplina que busca, de forma organizada e estruturada, descobrir quanto uma empresa deve manter em como fundo de reserva de caixa para estar preparada para as necessidades listadas acima.
PS: complementando o quarto ponto, além de exigência bancária, algumas empresas que atuam em setores regulados, como saúde ou energia, podem necessitar manter recursos como reserva de capital em caixa por exigências legais.
Mas quanto, afinal, minha empresa deve ter de saldo em caixa?
Certamente, uma das questões mais comuns e que aflige grande parte das organizações é a dúvida de “quanto minha empresa deve ter em caixa?”. E (erroneamente) a resposta que costuma surgir na ponta da língua dos mais desavisados é “ quanto mais tiver, melhor”.
Bom, como em quase tudo na Gestão do Desempenho Empresarial, existem conceitos, metodologias e boas práticas, mas raramente você vai obter uma resposta binária (zero ou um) para uma questão como essa. É preciso analisar o modelo de negócios, contexto, mercado, regulamentações, além do cenário econômico em que a empresa está inserida para chegar a uma boa resposta sobre quanto é necessário se ter como fundo de reserva.
Até porque não se deve pensar a gestão financeira do fluxo de caixa como uma área a parte da empresa, ela deve estar alinhada com todas as outras áreas da empresa. O nosso e-book Planejamento Estratégico e Orçamentário entra em detalhes nessas estratégias de alinhamento.
Retomando ao paralelo com a decolagem de um avião, muito combustível nem sempre é bom. Mais combustível que o necessário para chegar ao destino representa peso extra para um avião e um desembolso desnecessário para a companhia. Por outro lado, pouco combustível pode ser arriscado e a aeronave pode até alcançar o objetivo, mas fica sem nenhuma margem de segurança para uma eventual necessidade de desvio de rota ou qualquer outra manobra de emergência.
Em uma empresa, é muito parecido. Pouco dinheiro em caixa pode representar grandes riscos para os negócios! É de extrema importância que a companhia possua recursos suficientes para suprir as Necessidades de Capital de Giro (NCG) e não deixar a operação parar, reservas para lidar com os principais riscos corporativos, excedentes para necessidades de demissões ou contratações não previstas, bem como reservas exigidas por lei no caso de empresas em setores regulados.
Os fatores são muitos e seria extensivo demais tentar elencar todos que influenciam em uma boa gestão do saldo de caixa, então vamos parar por aqui. Mas lembre-se que todos eles resumem aos quatro principais grupos do tópico anterior (transações, precaução, especulação e reciprocidade).
Por outro lado, muito dinheiro em caixa pode representar que a empresa não está utilizando os recursos corretamente para crescer com velocidade. Uma vez que sua empresa possui um fundo de reservas suficiente para não precisar lidar com um “cobertor curto”, o ideal é que todo o excedente seja aplicado em Investimentos Operacionais ou mesmo em Investimentos Financeiros, buscando sempre a maximização dos retornos sobre o capital empregado (ROI).
Gestão do Saldo de Caixa em startups e empresas novas
Em primeiro lugar, precisamos reforçar que uma startup não é apenas uma empresa recém criada. Pela definição do próprio Eric Ries, autor do livro The Lean Startup, “uma startup é uma instituição destinada a criar novos produtos e serviços em situações de extrema incerteza”. Além disso, outra característica fundamental das startups é o crescimento repetível e escalável, ou seja, o aumento de faturamento em uma proporção muito maior ao aumento dos custos e despesas, de forma contínua e que possa ser repetida regularmente.
Ou seja, uma startup é uma empresa que está trabalhando em algo (um produto, serviço, modelo de negócios, etc.) que nunca foi comprovado como possível por ninguém antes. Logo, uma empresa tradicional, como uma indústria, uma loja ou um restaurante, recém criada, não é uma startup (raro algumas exceções em que há inovações no modelo de negócios, modelo de distribuição ou algum outro fator que faça a geração de riqueza da empresa se tornar repetível e escalável).
Apesar de serem coisas bem diferentes, uma startup e uma empresa recém criada, geralmente possuem algo muito incomum: ainda não faturam o suficiente.
Nesse caso, para uma empresa recém criada, a Gestão do Saldo de Caixa é fundamental, pois a empresa precisa se planejar para conseguir chegar com Reserva de Capital Inicial aportado até o ponto em que estará faturando o suficiente para atingir seu Ponto de Equilíbrio Econômico, quando começará a pagar seus custos e despesas com os próprios recursos gerados pela operação.
Ou seja, uma empresa em estágio inicial leva certo tempo até estar com sua operação em funcionamento e ainda há uma série de fatores nem sempre previsíveis que podem alongar ainda mais esse tempo, como atrasos nas obras, atrasos na criação dos estoques, na contratação de pessoal, etc. Assim é necessária uma boa gestão do capital para que a empresa não “morra na praia”, antes de estabilizar a operação e começar a gerar lucro para os sócios.
Em uma startup, o buraco é ainda mais embaixo! Eric Ries defende que toda startup tem apenas duas missões fundamentais: validar sua hipótese de valor e então validar sua hipótese de crescimento.
De forma bem resumida, a hipótese de valor se refere ao novo produto, serviço, modelo de negócios, modelo de distribuição ou qualquer outra inovação, pela qual a startup acredita que as pessoas irão se interessar, ou seja, irá gerar valor para os consumidores. Já a hipótese de crescimento se refere a como a startup pretende crescer de forma repetível e escalável.
Como por definição uma startup está trabalhando em algo que ninguém nunca fez funcionar antes, precisará começar do zero. Isso implica diretamente na preparação para lidar com erros, muitos erros!
Algo extremamente comum nas startups, afinal, até encontrar um modelo de negócios que funcione, a startup terá que testar dezenas, centenas e às vezes milhares de hipóteses de valores e de crescimento, mudando a estratégia sempre que encontrar uma hipótese que se provou inadequada. Esses testes e mudanças de estratégia são chamados de pivôs.
E é aí que voltamos a falar da Gestão do Saldo de Caixa. Em uma startup, o dinheiro disponível em caixa reserva é o que define o número de pivôs que a startup ainda tem. Toda vez que a startup muda a estratégia, custa dinheiro.
Além disso, o único objetivo de uma startup é achar uma hipótese de valor e uma hipótese de crescimento que funcione e chegar a um modelo de negócios que pare de pé. Logo, quanto mais rápido a startup executar os experimentos de mercado para testar as hipóteses, antes chegará a uma hipótese que funcione. Mas como no paralelo do avião, quanto mais rápido se acelera, maior é a queima de combustível.
Gestão do Saldo de Caixa em empresas consolidadas
Como vimos, a Gestão do Saldo de Caixa em uma startup ou em uma empresa recém criada é bastante desafiador. O que não quer dizer que em uma empresa consolidada a coisa seja mais fácil. Como diz a Teoria das Restrições (também chamada de Teoria dos Múltiplos Gargalos), assim que você remove um gargalo do sistema, um novo surge em outro ponto. Assim é a Gestão Empresarial!
Em uma empresa consolidada, os desafios apenas mudam de lugar e, conforme a empresa cresce, a estrutura acaba crescendo e tornando os movimentos maiores e mais caros. Dessa forma, começam a surgir necessidades e preocupações que não existem uma startup ou PME.
E isso está diretamente ligado aos conceitos de Reserva de Capital. Começando pela Necessidade de Capital de Giro, que não deve em momento algum ser negligenciada. Em uma grande empresa, ficar apenas um dia sequer sem produzir por um descuido do Capital de Giro pode representar um prejuízo gigantesco.
Além disso, empresas consolidadas costumam ter uma boa cadência de vendas, faturamento e recebimento, mas precisam se preparar para terem “fôlego” para enfrentar problemas com inadimplência, baixa nas vendas ou até mesmo ficar alguns períodos sem faturar.
Fora os recursos para planos de contingência, a Gestão do Saldo de Caixa de uma empresa consolidada também precisa contemplar recursos para Investimentos em Expansão e Gestão da Inovação.
O primeiro trata a ampliação das operações da empresa, fazer mais do que está funcionando bem. Já o segundo é sobre buscar continuamente novas formas de gerar valor para os negócios em impedir que a empresa (ou seus produtos e serviços) se torne obsoleta e perca espaço no mercado.
Portanto, uma boa Gestão do Saldo de Caixa em uma empresa consolidada deve buscar o equilíbrio entre a Gestão de Riscos, Gestão de Investimentos (expansão) e Gestão da Inovação.
Gestão de Saldo de Caixa pela ótica do crescimento acelerado
Como vimos, Eric Ries defende em seu livro A Startup Enxuta que toda startup precisa provar uma hipótese de valor e uma hipótese de crescimento. Podemos abstrair um pouco esses conceitos e adaptar a gestão de recursos de qualquer empresa, quando falamos pela ótica do crescimento acelerado.
Pode parecer contra intuitivo, mas empresas que querem crescer rápido, devem “se esforçar para queimar caixa o mais rápido possível”, conforme diz o Eric Ries. Mas claro que para isso, a empresa precisa ter um modelo de crescimento validado.
Em outras palavras, uma vez que uma empresa encontrou um produto ou serviço que gere valor para os clientes e consiga comercializar esse produto ou serviço com uma boa Margem de Contribuição, podemos dizer que a empresa validou sua hipótese de valor.
E quando essa mesma empresa encontra um canal de vendas (vendedores, online, representantes, distribuidores, etc.) onde quanto mais investe, mais gera vendas, podemos dizer então que a empresa validou sua hipótese de crescimento.
Eric Ries chama isso de encontrar o motor que irá gerar tração para empresa. Uma vez que o motor certo (combinação de produto + canal) foi criado e está funcionando, quanto mais combustível (dinheiro em marketing e vendas) for injetado, maiores serão as vendas e os lucros da companhia.
Empresas inovadoras com a Apple possuem políticas de reinvestimento de praticamente a totalidade de seus lucros na própria operação. Claro que isto acontece de forma equilibrada, entre reinvestir os recursos e a reserva de capital em marketing e vendas, para aumentar ainda mais o volume de vendas e reinvestir em inovação, para se manterem sempre como líderes em seus setores.
Falando ainda em crescimento acelerado, é comum encontrarmos também empresas que optam por trabalhar com fontes de recursos externos (capital de terceiros), injetando esse capital para dar maior velocidade aos negócios ao invés de esperar pelo crescimento orgânico (usar os próprios lucros gerados pela operação) para dar velocidade aos resultados da empresa. Chamamos isso de empresas com alto grau de alavancagem financeira, mas esse tema é para um novo artigo.
E aí, ficou alguma dúvida sobre o que é gestão do saldo de caixa ou fundo de reserva? Comente abaixo para podermos te ajudar!
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