Warren Buffet é considerado um dos mais bem-sucedidos investidores do século XX. Como se não bastasse, é um dos empreendedores mais respeitados da atualidade e a quarta pessoa mais rica do mundo. Acho que com um currículo desses vale a pena prestar atenção numa de suas frases:
“A primeira regra de investimento é não perca dinheiro; a segunda regra é não esquecer a primeira”.
Bom, desde que o mundo é mundo ninguém quer perder dinheiro. E quando entramos no mundo dos negócios, a frase tem um peso ainda maior. Afinal, se Warren Buffet não quer perder dinheiro, imagina nós, meros mortais!
Agora, vamos sair do holofote dos bilionários e imaginar a seguinte situação:
Uma equipe de desenvolvimento de produtos de uma empresa tem a ideia de diminuir em 10% o custo da fabricação de um determinado equipamento. Cada equipamento tem um custo de R$ 500,00 e num mês são produzidos 10 mil. O investimento dessa nova ideia é de R$ 800 mil. Para apresentar a ideia, o time marcou uma reunião com a diretoria. Uma das primeiras perguntas que os diretores farão será: “Qual será o Payback (Tempo de Retorno do Investimento)?”
Para ajudar a equipe de desenvolvimento de produtos a fazer uma apresentação da sua ideia (e a responder a pergunta proposta), vamos entender direitinho os principais itens do Payback?
O que é Payback
Começando primeiro pelo conceito: Payback é um cálculo simples do tempo que levará para um investimento se pagar. O método Payback pode ser utilizado tanto por empreendedores iniciando um negócio quanto por gestores que querem implementar uma ideia e precisam saber o tempo de retorno do investimento.
A importância do Payback para a Análise do Tempo de Retorno do Investimento
Já que vamos dar uma mão para o time de desenvolvimento de produtos a aprovar o projeto, temos que primeiro entender sobre o que vamos falar. Sabemos que para que ocorra o percurso da ideia sair do papel e ganhar corpo, existem diversos fatores de decisão a serem avaliados. Os resultados desses fatores são analisados através de indicadores de desempenho e um deles, que é o motivo dessa nossa conversa, é o Payback.
“O investimento vai se pagar?”. “Quanto tempo levará para o projeto dar retorno?”. “Como saber o fôlego financeiro que preciso ter?”. “Esta é a melhor alternativa para investir no momento?”. Citando apenas alguns exemplos, estas são as linhas de perguntas que surgem tanto para quem inicia um negócio, quanto para quem planeja um investimento.
E é justamente para responder a essas questões que existe o Payback, que é o período de recuperação do investimento. Ele funciona como um indicador que mostra quanto tempo o empréstimo ou investimento levará para retornar ao investidor ou à empresa.
Trocando em miúdos: ao fazermos qualquer tipo de investimento temos que atravessar pelo período de despesas, em que vemos o dinheiro sair do caixa. Mas, se tudo que vai, volta (pelo menos é o que acontece com empresas como a sua, que fazem análise de viabilidade de investimentos), chegará um momento em que as receitas recuperarão o capital investido. E é este momento - apresentado em período de tempo - que o método do Payback mostra.
Relação entre Payback e Fluxo de Caixa
Já que tocamos no assunto de um determinado valor sair do caixa para que um projeto seja viabilizado, é imprescindível que isso seja muito bem planejado para nenhum administrador ser pego de surpresa. É exatamente por isso que o Payback está 100% ligado com um Fluxo de Caixa bem feito.
Ou seja, para pensar em Tempo de Retorno do Investimento é fundamental que tudo que sair da sua empresa esteja programado com o que for entrar.
Com a projeção do fluxo de caixa os administradores têm a total segurança sobre quando aplicar o dinheiro de acordo com a captação em determinado período. No fluxo de caixa falamos em captação e aplicação. Já quando tratamos de Payback falamos no espaço de tempo para o dinheiro que saiu da empresa voltar para seu cofre.
Nesse período, é preciso considerar as despesas e receitas atuais e futuras. É fácil de entender o motivo da relação entre Fluxo de Caixa e Payback ser tão forte, não é mesmo?
Facilidade, aliás, é uma das vantagens apontadas para o método Payback. Além dela, existem outros pontos a se considerar, conforme veremos.
Vantagens do método Payback
Além da facilidade de entender seu propósito, o Payback é fácil de aplicar. Não é preciso treinamento adicional ou algum tipo de especialização. A fórmula, que será apresentada mais adiante, é simples e direta.
Geralmente, os gerentes utilizam o método de período de retorno do investimento para fazer rápidas avaliações de projetos que terão um investimento não tão alto. Logo, o Payback é o método mais indicado para startups e pequenas empresas, pois o tempo e o esforço utilizados para fazer análises econômicas mais sofisticadas não fazem sentido para projetos menores.
Mas claro que o método não é usado apenas por pequenas empresas. Talvez a principal vantagem do Payback seja a de que ele pode ser considerado como uma ferramenta de triagem na avaliação de projetos. É através dessa primeira análise – mesmo que simplificada - do período de recuperação do investimento que gerentes podem testar se o mesmo realmente vale a pena.
Passado o período de teste, a empresa pode evoluir para uma análise mais detalhada e sofisticada, com metodologias que considerem o Valor Temporal do Dinheiro (TVM – Time Value of Money – conceito que prega que quanto antes o negócio dispor do dinheiro, mais cedo ele maximiza seu valor, ou seja, “um real no bolso agora vale mais que dois voando”) e a Taxa Interna de Retorno (TIR – um dos conhecidos Indicadores Financeiros para Análise de Investimentos).
E já que citamos o Valor Temporal do Dinheiro, qual sua relação com o Payback e quais seus pontos negativos?
Desvantagens do método Payback
Quando um projeto está sendo trabalhado, as entradas de caixa referentes a ele podem não ocorrer de forma linear. É o caso de projetos que só conseguem ter o retorno para além do tempo previsto. Além disso, um projeto pode ter uma taxa de retorno boa, mas esta taxa pode não ser a desejada para o período previamente estipulado.
Se o período de retorno do investimento for o único indicador para avaliar a viabilidade de um projeto, pode acontecer de ele ser engavetado. Isso porque não foi levado em consideração que um investimento pode continuar a dar retorno muito tempo depois de ter sido pago. Uma das causas disso é porque o Payback trabalha com prazos mais curtos.
Resumindo: o método Payback ignora o Valor Temporal do Dinheiro e não considera as entradas que ocorrem após o investimento inicial ter sido recuperado.
Conceitos entendidos, vantagens e desvantagens assimiladas, temos uma reunião com a diretoria, lembra? Agora chegou a hora de arregaçar as mangas e trabalhar.
Como calcular o payback?
Colocando na ponta do lápis os números do problema apresentado no início deste artigo, temos:
- Custo do equipamento: R$ 500,00
- Redução de custo proposta pela equipe: R$ 500,00 - 10% = R$ 450,00
- Economia: R$ 50,00
- Investimento da nova ideia: R$ 800 mil
- Quantidade média produzida por mês: 10 mil equipamentos
- Quantidade média num ano: 120 mil equipamentos
Primeiro, vamos dividir o valor do investimento pela economia (ou seja: 800.000 / 50). O resultado, 16.000, corresponde ao número de equipamentos que deverá ser produzido para pagar o investimento.
Para apresentar o resultado em quantidade de meses, você e a equipe de desenvolvimento de produtos fizeram o seguinte:
- quantidade média produzida por mês: 10 mil equipamentos
Payback mês = 16.000 / 10.000 = 1,6
A diretoria agora tem sua resposta:
- 1,6 meses para a empresa recuperar o dinheiro investido na nova ideia, que, aliás, foi aprovada e já está em fase de produção!
Aqui no exemplo utilizado, a equipe tinha um projeto de economizar na produção dos equipamentos. Ela dependia da ideia estar totalmente concretizada para começar a economizar.
Ao calcular o Payback é preciso observar se haverá entregas (produtos ou serviços) ao longo do projeto. É o que acontece nas áreas de marketing, TI e construção civil, por exemplo. Em casos assim, essas entregas são comercializadas antes mesmo do fim do projeto como um todo. Com isso, o período de Payback será menor do que aquele projeto que comercialize o produto e/ou serviço somente após sua conclusão (como no exemplo utilizado).
Conforme você percebeu, o cálculo apresentado é simples (simplicidade, aliás, é uma das vantagens do método payback, lembra?). Existe também um outro tipo de Payback, conhecido como “descontado”. É o que veremos a seguir.
Diferença entre Payback Simples e Payback Descontado
O Payback Simples foi o que vimos até agora. Também como observamos, ele não considera o valor do dinheiro no decorrer do tempo. Adicionalmente, não leva em consideração as entradas realizadas após o investimento ter sido efetuado.
Para resolver isso, existe o Payback Descontado, que é muito semelhante ao Payback Simples. A diferença é que antes de calcular o primeiro, descontamos seu fluxo de caixa e reduzimos os pagamentos futuros pelo seu custo de capital. Isso é feito justamente porque o dinheiro tem um valor maximizado no decorrer do tempo (R$ 1 mil no caixa da empresa hoje tem mais valor do que R$ 1 mil que entra somente após 6 meses).
Colocando o método do Payback na balança
Nada de perder dinheiro, certo? Por isso, o payback também é um indicador que os gestores precisam considerar na hora de tomar decisão. Sabemos que não existe negócio sem risco e ainda não temos um indicador que acerte 100% na mosca. É aí que entra o papel do gerente de controladoria.
Cabe a ele analisar a situação atual, tanto da empresa, quanto da concorrência e do mercado em geral. Em seguida, cruzar o máximo de informações possíveis para não cair em armadilhas.
O Payback é rápido de analisar e dá o primeiro panorama para que gestores possam considerar levar o projeto adiante. Além dele, existem:
Indicadores associados à rentabilidade do projeto
- VPL - Valor Presente Líquido: calcula o valor presente de uma série de pagamentos futuros através do desconto da taxa de custo de capital estipulada;
- VPLa - Valor Presente Líquido Anualizado: é o ganho por ano, ou seja, utiliza uma série uniforme que representa o ganho do projeto;
- IBC - Índice Benefício / Custo: relação de quanto se espera ganhar para cada unidade de capital investido;
- ROI - Retorno sobre o Investimento: é a melhor estimativa da rentabilidade que um projeto de investimento pode oferecer.
Indicadores associados aos riscos do projeto
Além do Payback, temos:
- TIR - Taxa Interna de Retorno: taxa de retorno que zera o Valor Presente Líquido e leva em conta o valor do dinheiro no tempo;
- Ponto de Fisher: estabelece um limite para a variabilidade da TMA (taxa mínima de atratividade) em que para o investidor, em termos de ganho, seria indiferente entre duas alternativas de investimentos.
(Como não vamos deixá-lo na mão, temos um e-book completíssimo sobre esses Indicadores para Análise de Projetos de Investimentos).
Colocando o método Payback na balança, entedemos que ele, sozinho, mostra uma boa base quanto ao período de retorno do um investimento. Mas, se sua atenção estiver voltada só para ele, existe o risco de ficar “tapando o sol com a peneira”. Assim, pode esquecer de analisar outros indicadores que proporcionam um panorama mais completo. Isso não só sobre o período de recuperação do investimento, mas também sobre a viabilidade do projeto como um todo.
Recapitulando + Bônus
Ajudamos a equipe de desenvolvimento de produtos a apresentar a ideia para os diretores. Também descobrimos quanto tempo o projeto vai se pagar e anotamos mentalmente a lição de Buffet: investir, só se for para ganhar dinheiro (mas você também já sabia).
E de vários indicadores que analisam a viabilidade do projeto está o Payback, ou período de retorno de investimento. Graças a ele, o gestor consegue avaliar em quanto tempo o investimento vai se pagar. Do outro lado, os administradores conseguem analisar se haverá fluxo de caixa suficiente entre o intervalo do dinheiro sair e voltar.
A teoria é simples, assim como é o cálculo do Tempo de Retorno do Investimento. Por esse motivo, uma das principais vantagens do método é a sua simplicidade.
O Tempo de Retorno do Investimento é também um indicador que dá um primeiro panorama sobre a viabilidade do investimento no projeto. Com ele, os gestores têm uma visão geral se vale a pena começar a levar a ideia mais adiante.
O lado negativo é que, sozinho, o Payback pode não ser tão certeiro. Startups geralmente conseguem utilizá-lo isoladamente. Empresas maiores tendem a utilizar outros Indicadores Financeiros para Análise de Investimentos em conjunto.
Aliás, falando em indicadores, lançamos um e-book completíssimo sobre o tema:
No material, além de Payback, abordamos também diversos outros indicadores importantes como TIR, VPL, VPLa, ROIC, entre outros.
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