Quem trabalha no mundo financeiro, seja dentro de uma empresa, seja fora, já está acostumado com um jargão bastante usado pelos profissionais que diz: o dinheiro custa caro. É isso mesmo,todo o valor que é orçado, investido, projetado, gasto ou recebido, além do seu valor nominal, também apresenta um custo para existir, digamos assim.
No mercado de capital, principalmente, há alguns indicadores que representam esse custo. Um deles é a taxa de desconto. Depois vamos ensinar como fazer o cálculo para chegar a ela com todos os detalhes, mas só para você ter uma noção rápida do que ela significa, vamos pegar o exemplo de uma empresa que faz uma venda de R$ 1.000,00 para 30 dias, mas quer adiantar esse recebimento.
Ao procurar uma instituição financeira para fazer a antecipação do recebível, ela vai informar que, sim, pode fazer esse adiantamento, mas que precisará trazer aquele valor que seria pago daqui a um mês para o valor atual, o que daria R$ 900,00. Essa ação é a chamada taxa de desconto, o tema do nosso artigo de hoje. Continue a leitura e entenda o conceito de taxa de desconto e como fazer seu cálculo utilizando o Custo Médio Ponderado do Capital (em inglês WACC, Weighted Average Capital Cost).
O que é taxa de desconto
A taxa de desconto é o indicador utilizado para comparar o retorno de um determinado investimento, seja em títulos, seja na compra de uma empresa ou apenas de suas ações. Ele está relacionado ao estudo de viabilidade econômica de um negócio e não deve ser confundida com o retorno do investimento (ROI).
Podemos dizer que a taxa de desconto é o oposto da taxa de juros. Isso porque os juros funcionam como uma remuneração de um capital emprestado ou investido. Em outras palavras, é o pagamento de um aluguel do dinheiro que é praticado sempre no futuro, dependendo das condições estabelecidas, ou seja, dos acordos.
Quando contratamos um financiamento de R$ 10.000,00 no banco a uma taxa de 5% ao ano, por exemplo, significa que, ao final de um período de 12 meses, o valor concedido estará valendo R$ 10.500,00 de acordo, claro, com as condições estabelecidas entre as partes. A quantia de R$ 500,00 que ficou de diferença é a remuneração cobrada pelo banco pelo crédito concedido.
Já a taxa de desconto se refere ao valor de antecipação da quantia que será investida. É uma forma de ver se o valor projetado, como o fluxo de caixa ou o faturamento de uma empresa, é viável se comparado com o cenário presente, se visto sob as perspectivas econômicas, comportamentais e conjunturais de um período atual.
Essa análise é importante porque um valor futuro é muito subjetivo e pouco palpável, pois não há uma base de comparação sólida. Afinal, ninguém tem bola de cristal para saber se uma quantia de R$ 5 milhões de fluxo de caixa projetada para um ano será viável ou não para um investidor. Por isso, a solução é aplicar a taxa de desconto e trazer os mesmos R$ 5 milhões para a atualidade, oferecendo, assim, a possibilidade de uma comparação clara.
Assim, a taxa de desconto reflete o grau de risco de um investimento, pois ajuda o investidor a ter mais certeza sobre a possibilidade de retorno oferecida pelo ativo no qual ele está aplicando seu capital, principalmente em casos de aquisição de empresas.
No exemplo que citamos na introdução do texto, a instituição que antecipou o recebível da empresa em questão aplicou a taxa de desconto de 10%. Assim, ela passou os R$ 1.000,00 ao tempo presente, avaliou a viabilidade do negócio e pagou pelo título a quantia que ele realmente valia naquele momento, que era de R$ 900,00.
Se a instituição não aplicasse a taxa de desconto, estaria andando no escuro e poderia acabar fazendo um negócio não muito vantajoso, pois não saberia o quanto aquele título realmente valeria no tempo presente e não teria a base sólida de comparação. Foi uma forma de se proteger do risco da negociação.
Podemos dizer que a instituição estaria enviando a seguinte mensagem: eu só posso pagar por esse recebível o que ele vale neste momento, pois não tenho como saber o que vai acontecer com ele durante os 30 dias. Então, agora, pagar esses R$ 900,00 é viável para o meu caixa e se trata de um bom negócio para a empresa.
Para a empresa que solicitou a antecipação do recebível, a quantia de R$ 100,00 de diferença após a aplicação da taxa de desconto ficou como uma espécie de custo para antecipação do capital.
A taxa de desconto é importante na decisão de um investimento, mas existem ainda outros indicadores que precisam ser levados em consideração. Para ajudar, elencamos os principais em um e-book e mostramos como eles funcionam. Vamos abordar os seguintes indicadores para complementar a sua avaliação com um investimento:
- VPL;
- Valor Presente Líquido;
- VPLa - Valor Presente Líquido Anualizado;
- IBC - Índice Benefício / Custo;
- ROI - Retorno sobre o Investimento.
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Capital próprio ou de terceiros?
Além da decisão dos investidores, a taxa de desconto também é útil dentro das empresas, no momento em que elas precisam decidir se vão tomar capital de terceiros ou se devem aproveitar o capital próprio em seus negócios. Essa é uma questão de longo prazo, que mexe diretamente com a rentabilidade do dinheiro alocado.
Pensando no futuro, é necessário ponderar o peso desses investimentos, medindo o quanto eles representam para o negócio. Muitas vezes, pensando no crescimento, apostar apenas no capital próprio pode ser uma boa saída para a empresa. Mas, claro, tudo vai depender da análise que será feita.
Como calcular a taxa de desconto
Essa taxa pode ser calculada de diferentes formas, de acordo com as variáveis escolhidas. Um dos cálculos mais conhecidos é feito por meio do Custo Médio Ponderado de Capital (WACC, do inglês Weighted Average Capital Cost). Essa média indica o nível de atratividade mínima do investimento, ou seja, se ele vai dar o mesmo retorno que outros investimentos considerados mais seguros.
O WACC tem duas funções importantes na gestão financeira:
- calcular o valor da empresa, o famoso valuation, quando usado como taxa de desconto de fluxos de caixa futuros;
- avaliar a viabilidade de novos projetos, funcionando como taxa mínima a ser ultrapassada para justificar o seu investimento.
De acordo com Aquiles Rocha de Farias, no livro Finanças e Sistema Financeiro Nacional para Concursos, o WACC é formado pelas diferentes taxas de remuneração exigidas a cada uma das fontes de capital de uma empresa. Com isso, essa taxa de desconto corresponde à média de todos os custos de recursos utilizados pela empresa ponderados pelo montante correspondente a cada a cada recurso.
A fórmula para o cálculo do WACC é a seguinte:
Vamos, então, aplicá-la à empresa ACME, por exemplo, para calcular o custo médio do capital investido:
A empresa tem um custo de capital próprio de 12% ao ano e o valor de mercado de suas ações é de R$ 20 milhões. O valor contábil dos capitais de terceiros utilizados pela companhia é de R$ 30 milhões. O custo desses capitais de terceiros é de 25% ao ano. A alíquota do imposto sobre os lucros é de 20%. Não considerando a possibilidade de a empresa pagar juros sobre capital pŕoprio, assim fica o cálculo:
De acordo com o cálculo, o custo médio ponderado de capital corresponde a 16,8%. Isso quer dizer que se a empresa ACME for vendida hoje, o seu valor é calculado subtraindo 16,8% de R$ 20 milhões (valor de mercado de capital próprio), o que dá R$ 16.640.000,00. Se este valor for menor que a lucratividade da empresa, não valeria a pena vender, por exemplo.
Conclusão
Pensar e pesar um investimento diante de inúmeras possibilidades exige muito esforço, que inclui a análise de diversas variáveis e cálculos. As empresas precisam fazer esse exercício sob a luz de argumentos sólidos e palpáveis.
E é justamente isso que a taxa de desconto faz, oferecendo elementos concretos para a análise. Imagine só não fazer esse cálculo, realizar um investimento e perceber depois que ele não foi um bom negócio por conta de baixo rendimento. Isso porque os dados concretos estão no presente, que é onde podem ser analisados com o cuidado necessário.
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