Treasy | Planejamento e Controladoria

Dívida X Lucro: a Contabilidade Gerencial acabando com o vilão das empresas

Dívida X Lucro

A vida útil de uma parcela significativa de empresas no Brasil dura em torno de 4 anos, de acordo com o IBGE. Tal fato ocorre, em sua maioria, pela falta de conhecimento dos empresários em gestão financeira e, principalmente, da ausência de estruturação e análise das demonstrações contábeis. A ausência de informações sobre a saúde financeira do negócio, pode causar a redução do lucro devido às despesas financeiras com altas taxas de juros provenientes dos empréstimos e financiamentos, comprometendo assim a Projeção de Fluxo de Caixa. Por isso é essencial que os donos do negócio e profissionais como Gestores Financeiros e Controllers, utilizem a Contabilidade Gerencial como ferramenta para analisar mais profundamente os dados econômicos-financeiros.

Como e quando usar a Contabilidade Gerencial para uma análise financeira?

A Contabilidade Gerencial, ou Contabilidade de Gestão, fornece um conjunto de informações geradas na contabilidade com fins gerenciais, e pode ser utilizada por todos os portes de empresas tais como: micro, pequenas, médias e grandes.

O processo de Contabilidade Gerencial é de identificar, mensurar, acumular, analisar, preparar, interpretar e comunicar informações que auxiliem os gestores a atingirem os objetivos organizacionais, não se prendendo a nenhuma obrigação legal.  Lembrando que o Contador é responsável pelas obrigações legais, enquanto o Controller e/ou o Gestor Financeiro, realizam o trabalho de análises e elaboração dos relatórios, auxiliando a diretoria a terem uma visão sintética e analítica dos dados para a tomada de decisão.

Algumas informações da Contabilidade Gerencial que os gestores devem utilizar para analisar o desempenho organizacional, são:

Em algumas empresas que não possuem um setor de Contabilidade ou a Contabilidade é externa, o maior erro cometido pelos gestores é o de não realizar as análises das demonstrações contábeis. Isso ocorre pois calculam apenas o vendido no mês (receita), menos o pago (despesas), chegando ao lucro. Muito desses relatórios são elaborados por funcionários despreparados ou proprietários sem conhecimento em finanças, como segue um exemplo de modelo:

O correto é a empresa elaborar um Demonstrativo de Resultado do Exercício, famoso DRE. Nele é possível analisar as rubricas e ter uma compreensão mais clara do resultado econômico da organização, conforme a imagem abaixo.

Caso você tenha interesse em fazer o download do Modelo de Planilha de Demonstrativo de Resultado, pode baixá-la gratuitamente clicando no banner:

O que é Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE) e o Demonstrativo do Fluxo de Caixa (DFC)

O Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE), é um relatório que oferece uma síntese econômica completa das atividades operacionais e não operacionais de uma empresa em um determinado período de tempo, demonstrando claramente se há lucro ou prejuízo. Ele foi criado pela legislação brasileira para padronizar e organizar o controle financeiro da empresa. Embora muitas pessoas não saibam, o DRE surgiu a partir de uma lei brasileira criada em 1976, a Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404). Essa lei tornou obrigatória a apresentação anual de um DRE por todas as empresas do país, devendo seguir determinadas orientações e padrões exigidos na Lei.

Já a Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) é uma demonstração contábil, que mostra as entradas e saídas de dinheiro do caixa e investimentos num determinado período, ou seja, evidencia a posição financeira da empresa. O DFC, é dividido em três atividades:

Comparativo do DRE X DFC

Quando é feito uma análise somente pelo DRE, os dados mostram a receita, as despesas e custos realizados dentro do mês, independente se a venda ou o pagamento foram feitos a prazo ou à vista.

Muitas vezes a empresa pode ter realizado um volume alto nas vendas com lucro no DRE, porém, pela má gestão nos prazos de pagamento e recebimento, ela ficará sem dinheiro no caixa.

Exemplo: Imagine que uma empresa que venda sapatos comprou sua matéria-prima no valor de R$ 15.000,00 no mês 04 e pagará seu fornecedor em 3 pagamentos. O primeiro pagamento será no valor de R$ 5.000,00 no mês 05, o 2º no valor de R$5.000,00 no mês 06 e o 3º no mesmo valor de R$ 5.000,00 no mês 07. Esses produtos poderão ser vendidos no mês 07 no valor de R$ 21.000,00 em 3 pagamentos de R$7.000,00, sendo que o 1º recebimento seja realizado somente no mês 08. Com isso, a empresa poderá sofrer com a falta de recursos no caixa para cumprir a obrigação com seu fornecedor.

Nesse exemplo, a empresa teria um DFC representado dessa forma:

Enquanto o seu DRE será:

Analisando as imagens, podemos perceber que existe uma diferença entre Regime de Caixa e Regime de Competência. O Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE) é elaborado pelo Regime de Competência, que é um método de registro de lançamentos contábeis na data do fato gerador (receita, despesas e custos). Já o Demonstrativo de Fluxo de Caixa (DFC) é elaborado pelo Regime de Caixa, no qual as receitas, despesas, custos e investimentos são registrados somente quando forem recebidos ou pagos.

As demonstrações contábeis citadas acima, são de fundamental importância por terem objetivos distintos, porém, deverão ser elaboradas mediante a realidade de cada empresa, tendo como foco, a mensuração do resultado econômico-financeiro e auxiliar a diretoria na tomada de decisão.

Dicas de Gestão

Para sobreviverem, as empresas precisam alavancar suas vendas, adotando políticas de pagamento à prazo e à vista, além de minimizarem o risco de perdas (Perda de Devedores Duvidosos – PDD) e inadimplências.

Como mostramos no exemplo da empresa de sapatos, se não houver uma gestão nos prazos de pagamentos e recebimentos, a organização não terá dinheiro suficiente em caixa. Por isso, poderá não cumprir com suas obrigações sendo necessário recorrer a capital de terceiros, como empréstimos e financiamentos, acarretando em pagamentos de juros, aumento das despesas financeiras e redução da margem de lucro do negócio.

Para que sua empresa não passe por essa situação, seguem três dicas para prevenir a insuficiência do capital de giro:

#1 –  Mantenha o controle de inadimplência: antes de iniciar o controle de inadimplência de uma empresa, é necessário que seja realizado uma análise de crédito para aquele cliente em potencial solicitando documentos de identificação, ou dados da empresa para análise de índices econômicos – financeiros (como por exemplo o de liquidez e endividamento). A partir das informações obtidas, é determinado o perfil do cliente de acordo com as exigências da empresa. Um dos segredos é oferecer o crédito pedindo uma garantia, também deverá ser observado a situação do mercado atual, como por exemplo a economia do país e a taxa de desemprego. Um dos grandes problemas da gestão financeira, é não receber de seus clientes dentro do prazo negociado pois isso compromete a outra ponta, que é o pagamento dos fornecedores. Alguns passos essenciais para evitar a inadimplência e receber no prazo são:

#2 – Renegocie se necessário dívidas para o longo prazo: quando a empresa possui problemas de liquidez, está com as contas vencendo e sem caixa para cumprir com as obrigações, uma das soluções é negociar novos prazos de pagamento com fornecedores que não cobrarão juros ou juros mais baixos que empréstimos bancários. Uma ferramenta importante é medir a Necessidade de Capital de Giro (NCG) da empresa, reduzindo os ciclos financeiros e operacionais.

#3 – Reduza custos e despesas: seguem alguns exemplos que possam contribuir para uma redução de custos:

Outras dicas você pode conferir nesse conteúdo: Gestão de Custos e Despesas: 19 dicas para ganhar eficiência operacional com a Redução de Custos e Despesas!

O capital de giro pode auxiliar os empreendedores por meio de uma estratégia econômica sólida e eficaz, para que seja possível ter recursos para aplicar em outros investimentos.

Uma das maneiras de medir o desempenho da gestão e manter a sobrevivência da empresa, é através do Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro, que auxiliam tanto na análise da projeção do fluxo de caixa quanto da necessidade do capital de giro, levando em consideração o prazo médio de estocagem.

O que é Ciclo Operacional e o Ciclo Financeiro

O Ciclo Operacional é a soma de todos os acontecimentos de uma operação, desde a compra da matéria prima até o recebimento das vendas realizadas. A gestão de estoque é muito importante para contribuir para um ciclo mais curto e não acarretar despesas como aluguel para estocagem, energia, água, colaboradores, limpeza do local, etc.

O Ciclo Financeiro, também conhecido como Ciclo de Caixa, é o período de pagamento aos fornecedores até o recebimento referente às vendas do produto. Quanto maior o prazo dos fornecedores, mais dinheiro a empresa terá em caixa e menor será o Ciclo Financeiro, evitando pagamento de juros bancários, ou utilização do dinheiro para outros investimentos que gerem retorno para a empresa.

Para que a empresa seja saudável, é necessário que todos os ciclos sejam reduzidos e que girem várias vezes no ano. Tudo isso dependerá de dois pontos importantes, no Ciclo Operacional precisará de uma excelente gestão de estoque, e no Ciclo Financeiro ter barganha nas negociações com os fornecedores, reduzindo a necessidade de capital de giro e proporcionando maiores retornos sobre os investimentos.

Como medir o desempenho da empresa

Uma análise eficiente, deverá ser realizado usando as Demonstrações Financeiras (Balanço Patrimonial, DRE e DFC), para assim colher dados por todos os ângulos da situação econômica e financeira da empresa.

Para medir o resultado e alcançar as metas planejadas, o uso de Indicadores Chave de Desempenho – KPI’s, são de fundamental importância, devendo ser analisados em conjunto. Cada empresa cujo sua realidade, usará seus indicadores chaves de desempenho, não devendo ser padronizado para todas as empresas.

Abaixo, segue alguns exemplos de indicadores.

 Os Índices Financeiros são aqueles que evidenciam a situação financeira da empresa.

Já os Índices Econômicos são aqueles que representam margens de rentabilidade como as de resultados apurados, de retorno do capital investido, velocidade das operações realizadas, entre outras.

Conclusão

Podemos afirmar que a estruturação e gestão dos dados fornecidos pela Contabilidade Gerencial, é de fundamental importância para medir o desempenho da empresa baseado na análise das Demonstrações Contábeis, auxiliando nas tomadas de decisões.

Sobre o autor

Este artigo foi escrito por Franco Andrade Rezende especialmente para os leitores do Blog da Treasy.

Franco é formado em Administração de Empresas, Mestrando em Administração de Empresas com foco em Controladoria, Orçamento e Custos, pela Universidad de La Empresa (UDE) em Montevidéu-UY. Possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria e MBA Administração Executiva em Saúde, ambos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Desde 2008 atua no setor financeiro, com experiência e vivência em Contabilidade e Departamento de Pessoal. Atualmente, exerce função de Gestor e Consultor em Controladoria Financeira.

Para entrar em contato com Franco, envie e-mail para: franco_arezende@hotmail.com ou adicione no Skype: francoandraderezende.


Também publicado em Medium.