Pode até parecer engraçado a primeira vista, mas aqui na Treasy já presenciamos algumas discussões sobre o “melhor método de custeio”. Os adeptos do Custo Variável argumentam que “minha empresa trabalha com Método de Custeio Variável por A, B e C motivos”. Já os defensores do Custo por Absorção rebatem que “a minha adotou com sucesso o Método Custeio por Absorção por X, Y e Z razões”. Cada lado tem ótimos argumentos e a discussão pode ir longe.
Mas vale sempre lembrar que não se trata aqui de um duelo entre Honda x Yamaha ou Android x Iphone. Na Gestão Empresarial não existe certo ou errado. Existe o que funciona para cada empresa. Neste sentido, não há como comparar o Método de Custeio Variável e o Método de Custeio por Absorção e tentar achar um “vencedor”. Até porque eles são totalmente complementares.
Neste artigo vamos entender a fundo como funciona o Método de Custeio Variável e o Método de Custeio por Absorção, sendo que a o longo do post vamos conferir vários exemplos, com aplicações práticas. Além disto, disponibilizamos para download a planilha que utilizamos nos exemplos. Você pode baixa-la gratuitamente no botão abaixo.
Esperamos que o post seja útil para você e sua empresa e seria ótimo receber um comentário seu ao final da leitura. Bom proveito!
Diferenciando Custos de Despesas
Antes entrarmos mais a fundo nos conceitos de Custo Variável e Custo por Absorção, precisamos dar um passo atrás e reforçar um conceito que costuma confundir bastante os marinheiros de primeira viagem e algumas vezes prega peças até nos mais experientes: a diferença entre custos e despesas.
De maneira bem resumida, são considerados Custos, todo e qualquer desembolso relativo à aquisição ou produção de mercadorias. Alguns exemplos de custos são: matérias-primas, insumos e embalagens. Também compõem Custos os chamados Gastos Gerais de Fabricação (GGF), como depreciação de máquinas e equipamentos, energia elétrica, manutenção, materiais de conservação e limpeza para fábrica, viagens de pessoas ligadas à fábrica, etc.
Já as Despesas são todos gastos relativos à administração da empresa que não estão diretamente ligados à produção ou compra de mercadorias. Como exemplo podemos citar os desembolsos com salários e demais gastos de áreas como comercial, marketing, design, desenvolvimento de produtos e o financeiro. Ou seja, são os gastos que a empresa precisa ter para manter a estrutura funcionando, porém não contribuem diretamente para geração de novos itens que serão comercializados.
Mas esta é uma definição bem resumida para um assunto bem mais longo. Portanto, se você quiser se aprofundar para entender bem as diferenças, recomendamos o artigo Custos x Despesas - Saiba a diferença. Neste post, inclusive disponibilizamos para download gratuito uma planilha para gestão de custos e despesas e também um infográfico sobre classificação de desembolsos.
Pois bem. Agora que já estamos conceituados sobre as diferenças de Custos e Despesas, vamos seguir em frente com nosso artigo e entender um pouco mais sobre o Custo Variável e o Custo por Absorção.
Método de Custeio Variável (Método de Custeio Direto)
O Método de Custeio Variável (também conhecido por Método de Custeio Direto, como o soco do Rocky Balboa) é um dos Métodos de Custeio mais conhecidos e utilizados entre as empresas, principalmente aquelas que trabalham no modelo industrial ou comércio. E um dos principais motivos para isto é sua simplicidade e objetividade.
Os Custos Variáveis (ou Custos Diretos), como o próprio nome sugere, são aqueles que variam de acordo com o volume de produção e vendas da empresa. Ou seja, seus valores dependem diretamente do volume produzido, que por sua vez vai variar conforme volume de vendas efetivadas em um determinado período de tempo.
Veja alguns exemplos de itens classificados custos variáveis:
- Matérias-primas;
- Insumos produtivos;
- Embalagens;
De acordo com as atividades realizadas pela empresa, podemos classificar os custos de vendas de três formas: CPV, CMV e CSV. Neste artigo, vamos detalhar um pouco mais o CPV (por ser o mais complexo), mas antes vamos ver um pouco sobre cada um deles:
- CPV (Custo dos Produtos Vendidos) - Este tipo de classificação do custo de vendas geralmente está associado às indústrias, que fabricam os produtos que vendem. Neste caso, o custo dos produtos será composto de matérias-primas e insumos utilizados na fabricação;
- CMV (Custo das Mercadorias Vendidas) - Já o CMV é utilizado no calculo dos custos de vendas de empresas de comércio ou que apenas revendem mercadorias. Para as mercadorias vendidas, o custo será o próprio preço de compra do item que será revendido;
- CSV (Custo dos Serviços Vendidos) - Por fim, temos o CSV, que como o próprio nome ajuda a explicar, é o custo dos serviços prestados. Também conhecido como CSP (Custo dos Serviços Prestados), geralmente este tipo de custeio é utilizado em empresas onde não existe a venda de um produto ou mercadoria, e sim a prestação de um serviço, que pode ser desde horas de uma pessoa (como o caso de uma consultoria, escritórios de advocacia, agências de marketing, etc.), como um aluguel de uma máquina, equipamento ou até mesmo recurso computacional pago mensalmente (exemplo de softwares online, como o Treasy). O CSV é um pouco mais complexo de ser calculado e geralmente é feito utilizando o Método de Custeio por Absorção, que vamos ver mais a frente.
PS: vale lembrar que os custos (sejam eles CPV, CMV ou CSV) só acontecem quando ocorre a venda dos produtos ou serviços, do contrário deverão ser considerados como Estoques. Mas este já é assunto para um novo post.
Exemplo de Cálculo de Custo Variável (Custo Direto)
Para ficar mais fácil de entender, vamos partir para um exemplo prático utilizando uma empresa fictícia que produz chocolates. Vamos imaginar que em um determinado mês esta empresa está planejando vender 10.000 unidades de trufas e 10.000 unidades de bombons, a R$ 3 e R$ 2 cada unidade respectivamente. Este volume de vendas gerará então para a empresa um faturamento de R$ 50.000, conforme imagem abaixo:
Todavia, para produzir as trufas e bombons, a empresa precisará adquirir as matérias-primas e insumos (chocolate, recheios, etc.) utilizados na produção dos itens vendidos. Independente do quanto de matéria-prima a empresa comprar, o que importa para o cálculo do Custo Variável é a quantidade realmente utilizada na produção dos itens vendidos.
Sendo assim, é de extrema importância conhecermos a quantidade de cada matéria-prima utilizada para produzir 1 unidade de trufa e também para a produção de 1 unidade de bombom. Assim, fazendo um calculo simples podemos chegar ao Custo Variável Unitário de cada produto (quantidade de matéria-prima necessária multiplicada pelo preço de compra da matéria-prima). E por fim, multiplicando o custo unitário pela quantidade total do item vendida, temos o Custo Variável Total ou CPV (Custo dos Produtos Vendidos).
Método de Custeio por Absorção (Custeio Integral)
Até aqui foi fácil, certo? Afinal, calcular o Custo Variável é simples, não é mesmo? Se sabemos que precisamos de 30g de chocolate para produzir uma trufa, que o chocolate custa R$ 30 o quilo e que vamos vender 10.000 trufas, fica fácil calcular que vamos gastar R$ 9.000 em chocolate para produzir as 10.000 trufas. Mas quando falamos do Custeio por Absorção, o buraco é um pouco mais embaixo!
O Custeio por Absorção, também chamado Custeio Integral ou Custo Integral, recebe esse nome exatamente por absorver os Custos Fixos no custo final de cada produto vendido.
Ou seja, o Custo por Absorção tem como premissa debitar ao Custo dos Produtos Vendidos todos os custos da área de fabricação, sejam esses custos definidos como custos diretos ou indiretos, fixos ou variáveis, de estrutura ou operacionais. O próprio nome do Método de Custeio por Absorção deixa claro o que precisa ser feito: garantir que cada produto absorva uma parcela dos custos diretos e indiretos, relacionados à fabricação.
E o fator fundamental para a utilização do Método de Custeio por Absorção está na correta distinção entre Custos e Despesas. Apenas os desembolsos relativos aos produtos vendidos (sejam eles diretos ou indiretos) deverão ser alocados no Custo dos Produtos Vendidos. Todas os demais desembolsos (Despesas Administrativas, Despesas Financeiras, Investimentos, etc.) devem ficar de fora da composição.
Vale aqui o mesmo tratamento em relação a “ativação dos custos”. O Custo por Absorção só acontece no momento da venda dos produtos. Do contrários os custos relativos aos produtos em elaboração e aos produtos acabados que ainda não tenham sido vendidos devem ser tratados como Estoques de Produtos em Elaboração ou Estoques de Produtos Acabados.
Exemplo de Cálculo de Custo por Absorção (Custo Integral)
A exemplo do que fizemos com o Método de Custeio Variável, vamos entender na prática como aplicar o Custo por Absorção. Para isto, vamos imaginar que nossa pequena fábrica de chocolate tenha R$ 18.500 de Custos Fixos, conforme imagem abaixo:
Veja que estamos falando de Custos Fixos, mas todos ainda são relacionados à produção. Não há nenhuma Despesa Administrativa listada na imagem. Estes Custos, como o próprio nome diz, são fixos. Acontecendo ou não a venda dos produtos, eles continuarão a existir.
O que precisamos agora é achar uma forma de cada um dos produtos vendidos pagar um pedacinho destes Custos Fixos. Para isto, precisamos de um “driver de custeio”. Este “driver”, em tradução literal, é exatamente um direcionador dos Custos Fixos para cada produto vendido. O driver de custeio mais comumente utilizado é o tempo de produção de cada item.
Neste sentido, vamos imaginar que cada trufa leve 5 minutos para ser produzida, enquanto cada bombom precisa de 3 minutos. Quando multiplicamos este tempo pelo volume total de trufas e bombons produzidos no mês, chegamos a conclusão que vamos precisar de 80.000 minutos para confeccionar as 10.000 trufas e os 10.000 bombons.
Agora ficou fácil. Temos o tempo necessário para cada trufa e cada bombom, o tempo total de produção dos 20.000 itens e também os Custos Fixos. Basta fazer uma regra de três e encontrar o quanto cada unidade deve absorver dos Custos Fixos. Veja na imagem abaixo como ficaria nosso exemplo:
Custo por Absorção NÃO é Rateio!
Aqui na Treasy somos defensores ferrenhos do não uso dos rateios. Entre uma série de motivos, os rateios, em geral, geram muito trabalho administrativo, não impactam o resultado final da empresa e geralmente não possuem um critério único e que atenda todas as possibilidades, gerando discussões longas e pouco produtivas. Inclusive já falamos disto no artigo Centro de Serviços Compartilhados (CSC) – Um manifesto pelo fim dos rateios, onde sugerimos o uso de um CSC como alternativa mais eficaz aos rateios.
Quando estamos falando do Método de Custeio por Absorção, nos referimos a alocação dos Custos Fixos Produtivos, nunca das Despesas Fixas Administrativas (Despesas Operacionais).
Veja que nos exemplos as Despesas que fizemos as alocações são todas relacionadas a produção. Despesas Operacionais como salários do pessoal administrativo, despesas de marketing, etc., não devem ser absorvidas pelo custo.
Ignorar esta premissa pode levar a calcular indicadores importantes como a Margem de Contribuição, Ponto de Equilíbrio e EBITDA incorretamente e comprometer completamente as informações utilizadas pela diretoria para tomada de importantes decisões. Vamos aproveitar o gancho e entender um pouquinho dos impactos da correta apuração de custos nestes indicadores.
Os impactos dos Métodos de Custeio na Margem de Contribuição Bruta, Margem de Contribuição Líquida, Ponto de Equilíbrio Econômico e EBITDA
Para fechar nosso exemplo, agora que temos todas as variáveis na mão, podemos calcular facilmente a Margem de Contribuição Bruta e Margem de Contribuição Líquida de nossa fábrica de chocolates:
OBS: Por não ser o foco deste artigo, simplificamos o cálculo dos impostos, pressupondo que a empresa está no regime de tributação Simples Nacional.
Vale lembrar que os Custos Variáveis Unitários vão sempre acompanhar o volume de produção. Como vimos um pouco mais acima, se precisamos de 30g de chocolate para produzir uma trufa, para produzir 1.000 trufas vamos precisar de 30 Kg de chocolate. Para produzir 10.000 trufas vamos precisar de 300 Kg de chocolate. E assim por diante.
Claro que com um volume de produção maior, podemos negociar melhor com fornecedores e conseguir melhores preços de compras das matérias-primas. Mas quando falamos de Custos Variáveis, os ganhos de escala são marginais.
Já os Custos por Absorção Unitários diminuem conforme o volume de produção. Ou seja, como é feito um “racha” dos Custos Fixos pelo volume de itens produzidos, uma vez que o volume de produção cresce, temos mais produtos "entrando no racha" e ficando mais barato para cada um. Então quando falamos em Custos por Absorção, os ganhos de escala são bastante consideráveis.
Claro que há um limite. Por exemplo, vamos imaginar que com 5 funcionários a empresa consiga produzir as 20.000 unidades de chocolates. Talvez, com os mesmos 5 funcionários seja possível chegar a 30.000 unidades produzidas, mas para produzir 31.000 unidades, seja necessário a contratação de mais 1 pessoa. Sendo assim, é preciso sempre realizar Simulações de Cenários antes de tomar qualquer decisão de aumentar o diminuir o volume de produção e venda.
Ou seja, os Custos Variáveis e Custos por Absorção influenciam diretamente a Margem de Contribuição (Bruta e Líquida) de sua empresa. Infelizmente não temos como abordar em mais detalhes este ponto para o artigo não ficar muito grande, mas separamos alguns posts sobre Margem de Contribuição que vão ajudar com isto:
- Como calcular a Margem de Contribuição de seus produtos
- Planilha Gratuita com modelo para Cálculo de Margem de Contribuição e Lucratividade de sua empresa
- [Drops Treasy #03] - Indicadores de Desempenho: Margem de Contribuição
- CAC x LTV é o mesmo que Margem de Contribuição? O que sua empresa pode aprender com este “Indicador de Startups”
- Projeção de Margem de Contribuição: será que está valendo a pena vender os produtos e serviços de sua empresa?
E uma vez que chegamos a Margem de Contribuição, estamos a poucos passos de conseguir entender dois outros indicadores importantíssimos: o Ponto de Equilíbrio Econômico e o EBITDA (também conhecido por LAJIDA).
De forma bem resumida, se você conhece a Margem de Contribuição, basta levantar quais serão as Despesas Operacionais (ou Despesas Administrativas) e facilmente saberá se a empresa para de pé (atinge o Ponto de Equilíbrio) e se gera resultado operacional (EBITDA positivo). Mas infelizmente, a exemplo da Margem de Contribuição, não vamos ter como entrar em detalhes sobre estes dois indicadores aqui. Por isto separamos alguns posts complementares para enriquecer sua leitura. Confira abaixo!
Artigos sobre Ponto de Equilíbrio Econômico:
- Ponto de Equilíbrio Econômico - O que é e como calcular
- [Drops Treasy #04] - Indicadores de Desempenho: Ponto de Equilíbrio
- Projeção do Ponto de Equilíbrio e Projeção de EBITDA: tudo que você precisa saber em um único artigo!
Artigos sobre o EBITDA
- O que é EBITDA ou LAJIDA
- EBIT x EBITDA - O que são estes indicadores e qual a diferença entre eles?
- Projeção do Ponto de Equilíbrio e Projeção de EBITDA: tudo que você precisa saber em um único artigo!
Planilha gratuita com modelo de cálculo de Custo por Absorção e Custo Variável
Para fechar com chave de ouro, disponibilizamos para download a planilha que utilizamos nos exemplos deste post. Você pode baixar a planilha gratuitamente no botão abaixo.
Na planilha, basta alterar as células na cor branca. As células em cinza são compostas por fórmulas e já exibirão os resultados automaticamente.
Caso tenha ficado alguma dúvida, basta deixar um comentário no final do post que ficaremos contentes em responder. Seria ótimo também receber um comentário seu contando o que achou do artigo ou mesmo compartilhando um pouco de sua experiência, contando quais os métodos de custeio utilizados em sua empresa.
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