É fácil imaginar que no trabalho de um gestor de venture capital uma das rotinas mais comuns seja o de analisar projeções financeiras das empresas candidatas a investimento. O que não é tão óbvio assim é o erro mais comum que encontramos nessas projeções: o cálculo da necessidade de investimento.
Qualquer investidor, de qualquer categoria e tese de investimento, analisa a empresa como um todo, e não parte dela. Mas, por algum motivo, os empreendedores apresentam suas necessidades de investimento como se fossem projetos isolados, sem conexão com a receita gerada, sem desembolsos como impostos e infraestrutura.
Para evitar que você cometa os mesmos erros, confira o artigo escrito por Rodrigo Ventura, gestor de investimentos na BZPlan com o passo-a-passo completo para não errar na hora em sua projeção de necessidade de investimento.
1º passo: Faça uma projeção financeira completa
Não se esqueça de incluir tudo, tudo mesmo, na sua projeção: receita, impostos, custos diretos e indiretos, despesas operacionais fixas e variáveis, despesas financeiras, taxas relacionadas a burocracias diversas, despesas gerais, investimentos, comissões de vendedores e parceiros, taxas de meios de pagamento, provisões para pagamento de bônus, etc. etc. etc.
Analise o modelo de negócios como um todo e peça opinião de várias pessoas. Faça o exercício por cinco anos. Isto pode parecer futurologia, mas faz parte da avaliação feita pelos fundos para entender onde o empreendedor acha que dá pra chegar com o negócio.
Uma última dica: tente equilibrar agressividade e realidade, ou seja, pense grande, mas não dê passos maiores que suas pernas. Errar muito para cima ou muito para baixo, nesses dois quesitos, pega muito mal.
2º passo: Verifique o tamanho do mercado aproveitável
Nenhuma empresa pode ser maior que o mercado na qual está entrando. Ao mesmo tempo, nenhum investidor vai se interessar em investir numa empresa que pretenda, depois de cinco anos, ter uma participação muito irrelevante no mercado. Por isso, é sempre bom comparar a quantidade de clientes que você projeta com a quantidade de empresas ou pessoas do mercado-alvo. Compare também seu faturamento com o “Mercado Aproveitável”, ou em inglês: SAM – Serviceable Addressable Market. Você pode entender melhor o que é o SAM aqui.
3º passo: Analise o grau de maturidade da sua equipe
Sim, isso mesmo. A maturidade percebida da equipe conta muito na hora de um investidor acreditar na capacidade de execução das pessoas envolvidas em fazer a projeção acontecer. Quem você acha que consegue captar mais recursos numa mesma condição: dois recém-formados de 23 anos ou dois executivos com ampla experiência na indústria em que estão empreendendo?
Duas coisas podem ajudar muito no aumento da percepção de maturidade da equipe: experiências profissionais anteriores e validações do modelo de negócios. Esses dois fatores ajudam, e muito, na hora de atrair um investidor, portanto garanta que você tenha isso mapeado antes de começar a captar investimento. Isso vai garantir que você capte o máximo de recursos possível para o seu perfil de empreendedor.
4º passo: Calcule o fluxo de caixa da empresa
Depois que você fez a projeção financeira completa, checou a coerência dos números de acordo com o seu mercado-alvo e garantiu que a execução é plausível considerando a sua equipe, é a hora de projetar o fluxo de caixa. Não tem muito mistério, é só você somar todas as entradas (receitas) e subtrair todas as saídas (custos, despesas, impostos e investimentos). No final, o perfil desse indicador deve se comportar mais ou menos como o gráfico a baixo, no começo negativo, ou seja, você gasta mais do que arrecada, e depois positivo.
5º passo: Calcule o fluxo de caixa acumulado
Em seguida, faça uma soma simples dos fluxos de caixa mensais para obter o fluxo de caixa acumulado, que deve se comportar como a curva a seguir. A linha do gráfico desce até a empresa começar a receber mais do que gasta, o conhecido ponto de equilíbrio, depois sobe até cruzar a linha do zero, onde acontece o que chamamos de payback, ou seja, a empresa recuperou todo o prejuízo até aquele momento.
6º passo: Adicione a necessidade de capital de giro
Esse talvez seja o segundo erro mais comum nas projeções que recebemos: esquecer o da necessidade de capital de giro. Alguns modelos de negócios são mais intensos em capital de giro que outros – quando o prazo de recebimento de clientes é muito mais alongado que o prazo de pagamento de fornecedores. Mas no caso mais simples, de empresas de software como serviço, o que geralmente recomendamos é adicionar no mínimo o equivalente a um mês de despesas. Isso significa dizer que, além da diferença entre as entradas e saídas, a empresa precisa de uma reserva em caixa para emergências e erros de projeção. A nova curva ficaria assim:
7º passo: Identifique o ponto mais negativo dessa curva
O último passo é identificar o valor mais negativo do fluxo de caixa acumulado, considerando o capital de giro. No mesmo período que ocorre o ponto de equilíbrio, a necessidade de investimento vai corresponder a pior situação do gráfico.
O cálculo da necessidade de investimento da rodada investimento deve ser compatível com esse valor. Nem muito acima, nem muito abaixo. Vale ressaltar que, assim como toda a projeção, esse valor também deve ser compatível com a maturidade da equipe e da empresa. Busque sempre a coerência.
Ficou claro como realizar o Cálculo da Necessidade de Investimento para sua empresa?
Como quase tudo na Gestão Empresarial, não existe resposta pronta, receita de bolo, muito menos bala de prata. Cada caso é um caso. Mas certamente o modelo com 7 passos acima vai ajudar na realização do cálculo da necessidade de investido para sua empresa e não cometer este erro tão comum.
Mas e ai, o que interessa saber é se ficou claro para você como realizar o cálculo da necesside de investimento para sua startup. Compartilhe sua resposta conosco utilizando o campo de comentários!
Seria ótimo também saber o que achou do artigo ou mesmo receber uma mensagem sua, compartilhando conosco sua experiência, o que funciona e o que não funciona em relação ao tema em sua empresa.
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Sobre o Autor
Este artigo foi escrito por Rodrigo Ventura, gestor de investimentos na BZPlan.
Rodrigo é um dos sócios da BZPlan, gestora de fundos de investimento focada em empresas emergentes inovadoras. Com ampla experiência de gestão, avaliação de empresas e no mercado de venture capital, já participou de diversas bancas de avaliação e seleção de empresas e foi mentor na preparação de empresas em alguns dos mais importantes programas de mentoria do país. Rodrigo conta ainda com grande experiência como consultor de negócios e foi diretor de operações da empresa CataMoeda. Hoje, além de head de investimentos na BZPlan, atua também como consultor do Programa Startup SC do SEBRAE.
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