Dinheiro é o rei do negócio. Bom, se ele não for o rei, no mínimo é a força vital de toda empresa. Não é segredo algum que, para sobreviver, qualquer negócio (MEI, ME, PME ou grandes corporações) deve gerar dinheiro suficiente para cobrir despesas rotineiras (como pagar fornecedores, comprar matéria-prima, pagar funcionários etc.), pagar dividendos, deixar investidores satisfeitos e, claro, para crescer de maneira saudável.
Também não é segredo algum que a má gestão do fluxo de caixa está entre os causadores de falência nas empresas. Aliás, a falta de gerenciamento do fluxo de caixa (ou uma gestão feita displicentemente) é, provavelmente, um dos obstáculos para o crescimento das organizações.
Aqui no blog já falamos sobre como utilizar o fluxo de caixa como aliado em momentos de crise. O fato é que, independente de crises ou de cenário externo mais ou menos favorável, a Administração do Fluxo de Caixa não pode ser deixada de lado. Para tratar desse assunto, hoje nos aprofundaremos um pouco mais sobre como administrar o fluxo de caixa e apresentaremos dois modelos de Administração de Caixa: Modelo de Baumol e Modelo de Miller Orr.
Primeiro, como funciona o Fluxo de Caixa
O Fluxo de Caixa é uma das ferramentas gerenciais indispensáveis para a gestão financeira de qualquer negócio, independente do setor de atuação ou tamanho da empresa. Com ele é possível acompanhar as movimentações financeiras de sua organização, identificando todas as entradas e saídas de dinheiro, bem como o saldo final que sobra no caixa.
Ele está vinculado às:
- Operações ou atividades comerciais da empresa,
- Atividades de investimento (como a compra ou a venda de equipamentos) e
- Atividades de financiamento (como aumento de dívida ou financiamento de capital ou reembolso desse financiamento).
Assim, o dinheiro que uma empresa gera de suas operações (e que constará em seu fluxo de caixa) está ligado às suas principais atividades comerciais e oferece oportunidades para a administração do fluxo de caixa.
O Fluxo de Caixa é construído com base nas informações realizadas, ou seja, das entradas e saídas de dinheiro que já aconteceram na empresa. Essas informações são conhecidas pelo que chamamos de Demonstrativo do Fluxo de Caixa (DFC).
Além das entradas e saídas de dinheiro que ocorreram em um período específico, seja no caixa, nas contas bancárias ou nas aplicações financeiras que a empresa possui com liquidez imediata, com o DFC é possível ainda averiguar qual o resultado de cada uma destas movimentações financeiras.
Observe que a Demonstração do Fluxo de Caixa, ou DFC, é de extrema importância para o gestor analisar e avaliar a capacidade financeira da empresa, permitindo a elaboração de um planejamento financeiro adequado à realidade do momento. Isso evita que a organização fique sem dinheiro disponível em caixa para honrar seus compromissos, além de possibilitar que ela realize investimentos.
Como o tema do artigo é Administração de Caixa, para que você possa colocá-lo em prática precisará ter um bom gerenciamento de fluxo de caixa. A fim de ajudá-lo nessa missão, disponibilizamos gratuitamente uma planilha para acompanhamento completo das entradas e saídas do caixa de forma simples e fácil. Para baixá-la, basta clicar na imagem abaixo:
Com a planilha em mãos, ficará mais fácil para você colocar em prática como administrar o fluxo de caixa e o que veremos a partir de agora.
O que é Administração de Caixa?
A Administração de Caixa preocupa-se em gerir o fluxo de caixa de maneira que ele atinja os objetivos da empresa (definidos no planejamento estratégico), com a máxima rentabilidade e liquidez. Trata-se da capacidade de gestores (até mesmo do controller) de reconhecer os problemas de caixa antes de eles surgirem, a fim de resolvê-los para evitar que a bomba estoure e a empresa tenha que enfrentar uma recuperação judicial.
Sem um sistema de Administração de Caixa a organização pode perder rapidamente sua solvência, justamente por não ter dinheiro disponível para despesas regulares ou para aquelas imprevistas. Por isso, dizemos que saber como administrar o fluxo de caixa é um componente chave para assegurar a estabilidade financeira e a solvência de uma organização.
Uma administração de caixa tem como objetivo gerenciar os saldos de caixa de forma a maximizar a disponibilidade de caixa não investido em ativos fixos ou estoques a fim de evitar o risco de insolvência.
Importância da Administração de Caixa
Como você pode entender, a Administração de Caixa permite que as empresas sejam solventes o suficiente para continuarem operando, inclusive em momentos de recessões econômicas e outros problemas no ambiente externo, ou durante problemas enfrentados pela sazonalidade do negócio.
Organizações que falham na Administração de Caixa podem acabar endividadas a ponto de ser difícil recuperar a estabilidade econômico-financeira. Além disso, a gestão de caixa auxilia no planejamento de projetos de investimentos. Isso porque, com base na estimativa de entradas e saídas de dinheiro (ou seja, por meio da projeção de fluxo de caixa) o controller terá dados suficientes para projeções de cenários futuros. Por isso, de certa maneira, saber como administrar o fluxo de caixa pode ser considerado o trabalho mais importante do profissional de controladoria.
Uma eficiente administração de caixa melhora a rentabilidade e reduz o risco ao qual a empresa está exposta. Importante destacar que mesmo que uma empresa esteja operando com lucro, ela terá que administrar seu fluxo de caixa corretamente para ser manter-se competitiva (aliás, são nesses momentos que o caixa deverá ser ainda mais monitorado, pois qualquer deslize pode virar o barco).
Por isso, Administrar o Caixa é uma questão de equilíbrio
Dizemos que na vida temos que encontrar o equilíbrio entre o pessoal e profissional, não é mesmo? Na Administração do Caixa acontece o mesmo, sendo que o equilíbrio está entre ter muito ou pouco dinheiro disponível.
Se uma empresa tem muito dinheiro em caixa, significa que ela está perdendo oportunidade de investir e gerar ganhos adicionais. Do contrário, ou seja, se ela não tiver dinheiro suficiente em caixa para saldar suas dívidas e obrigações, terá que recorrer a empréstimos e pagar juros (ou vender seus investimentos líquidos para gerar o dinheiro).
Para que possamos encontrar esse equilíbrio podemos utilizar dois modelos de administração de caixa. Para entender melhor, dá uma olhada no próximo tópico.
Modelos de Administração de Caixa
Já vimos como funciona o fluxo de caixa, o que é administração de caixa e também sua importância. Agora veremos os dois modelos de administração de caixa mais conhecidos:
- Modelo de Baumol
- Modelo de Miller-Orr
O que é Modelo de Baumol?
O pai da criança é o pesquisador William Baumol, que desenvolveu um modelo geralmente utilizado na gestão de estoque, mas também muito aplicado para determinar o saldo de caixa ideal (Baumol encontrou semelhanças entre gerenciamento de estoque e gerenciamento de caixa).
De acordo com Baumol, a gestão de estoque envolve compensação entre custos de transporte e custo de pedidos, logo, o saldo de caixa ideal é a compensação entre Custo de Oportunidade e o custo de transação (ou seja, o custo da conversão de títulos negociáveis em dinheiro).
O Modelo de Baumol é aplicado quando as entradas de dinheiro são periódicas e as saídas de recursos são contínuas. De maneira geral, o modelo de Baumol realiza uma análise do custo associado à manutenção do dinheiro em caixa. Trocando em miúdos, trata-se do Custo de Oportunidade determinado pelo juros que uma empresa deixa de receber por não aplicar os recursos em títulos negociáveis, e do custo de obtenção do dinheiro pela conversão de títulos negociáveis em caixa.
Ressaltamos que o Modelo de Baumol baseia-se na suposição básica de que o tamanho e o tempo do fluxo de caixa são conhecidos com um alto grau de certeza. Contudo, sabemos que isso geralmente não acontece na prática e os fluxos de caixa de uma empresa não são nem uniformes, nem certos. Para resolver essa questão, surgiu o Modelo de Miller-Orr que veremos adiante. Antes, vamos exemplificar o modelo de Baumol.
Suponhamos que a empresa XYZ inicie a semana 0 com um saldo de caixa de R$ 1.2 milhão, e as saídas superem as entradas de caixa em R$ 600.000,00 por semana. Seu saldo de caixa cairá a zero ao final da segunda semana, o que significa que se a XYZ mantiver-se nesse ritmo, será obrigada a recompor seu caixa pegando dinheiro emprestado ou vendendo títulos negociáveis.
Utilizando o Modelo de Baumol, temos que seu saldo médio de caixa será de R$ 600.000,00 (R$ 1,2 milhão/2). Logo, para a XYZ esse é o valor médio semanal para que o fluxo de caixa esteja equilibrado.
O modelo Baumol parte da premissa de que a parcela do dinheiro investido a curto prazo proporciona um ganho na forma de juros, e que cada operação de investir/desinvestir implica em um custo (desde impostos de transações financeira até o custo do tempo que o funcionário leva para fazer a operação de ligar para o banco e solicitar a transferência de recursos da conta de investimentos). O modelo de Baumol confronta os rendimentos obtidos com investimento de curto prazo e o custo de cada operação de aplicação e resgate, determinando quantos montantes iguais o recebimento original será dividido, de modo a maximizar o lucro. O valor econômico de conversão é obtido por:
Onde:
- VEC (valor econômico de conversão): são os títulos negociáveis que devem ser convertidos em caixa para manter determinado volume de recursos disponíveis (no exemplo da empresa XYZ, temos que VEC = R$ 1.2 milhão).
- Custos de conversão: são os custos administrativos referentes à conversão de títulos negociáveis em caixa. É um custo fixado para cada operação.
- Custos de oportunidade: são os rendimentos que a empresa deixa de receber no período em que os recursos são mantidos em caixa e não em títulos negociáveis.
- Custo total de caixa: é representado pela soma dos custos totais de conversão (custo de cada operação multiplicado pelo número de conversões) com os custos totais de oportunidade. O cálculo e expresso pela seguinte fórmula:
- Saldo médio de caixa – refere-se ao valor econômico de conversão médio (VEC / 2).
Observe que o Modelo de Baumol é especialmente aplicável em empresas cujos pagamentos de clientes são concentrados em determinado dia do mês e cujos desembolsos sejam efetuados ao longo do mês. Para casos diferentes, recomenda-se o Modelo de Miller-Orr.
O que é o Modelo de Miller-Orr?
O Modelo de Merton Miller e Daniel Orr considera que entradas e saídas de caixa oscilam de um dia para outro, ou seja, assume fluxos de caixa incertos. Ele determina um limite superior e ponto de retorno para saldos de caixa, pois parte do pressuposto que os saldos de caixa flutuam aleatoriamente entre um limite superior e um limite inferior.
Miller e Orr sugeriram um modelo com limites de controle, que estabelece pontos de controle para o tempo e o tamanho das transferências entre uma conta de investimento e uma conta de caixa.
Os saldos de caixa podem oscilar entre zero e o limite superior. Assim, sempre que o saldo real do caixa ultrapassar o limite inferior ou superior, o modelo de Miller Orr pressupõe a transferência de dinheiro para dentro ou para fora da conta para retornar o saldo a um ponto normal, fazendo com que o caixa atinja o chamado “nível ótimo”.
Portanto, o Modelo de Miller Orr sugere um nível ótimo do caixa, que nada mais é do que o nível a ser perseguido quando o nível do caixa está fora dos limites calculados. Quando o nível do caixa ultrapassar o nível máximo, a diferença entre o nível do caixa e o nível ótimo deve ser aplicada em títulos negociáveis. Do contrário, quando o nível do caixa ultrapassar o nível mínimo, a diferença entre o nível do caixa e o nível ótimo deve ser resgatada.
Para calcular o nível ótimo do caixa, seguimos a fórmula abaixo:
Onde:
- Z = nível ótimo de caixa
- b = custo fixo de transação de cada operação para títulos financeiros;
- = variância dos saldos líquidos diários do caixa;
- i = taxa de juros dos títulos financeiros;
- hmin = limitante inferior ou nível mínimo do caixa.
O limitante superior h é calculado por:
O limitante inferior hmin é originalmente zero, mas pode ser definido como qualquer valor. Sua definição afeta o valor de saldo ótimo Z e do limitante superior.
Para encerrar: como fazer uma boa Administração de Caixa?
Uma boa Administração de Caixa é bastante simples e basicamente tem a ver com três itens:
- Saber quando, onde e como as necessidades de caixa ocorrerão;
- Conhecer as melhores fontes para atender às necessidades adicionais de caixa; e
- Estar preparado para atender a essas necessidades quando ocorrerem.
O ponto de partida para uma boa administração do fluxo de caixa não tem segredo: é o desenvolvimento de uma projeção de fluxo de caixa. Nesse sentido, controllers devem saber como desenvolver projeções de fluxo de caixa de curto prazo (semanalmente, mensalmente) a fim de melhor gerenciar o dinheiro diário, bem como trabalhar com as projeções de fluxo de caixa a longo prazo (anual, 3-5 anos) para desenvolver a estratégia de capital necessária para atender ao planejamento estratégico da organização e às necessidades comerciais.
Uma boa prática também associada à Administração do Fluxo de Caixa é sempre manter um registro de como sua empresa utilizou o dinheiro em exercícios anteriores. Desse modo, você conseguirá projetar os períodos de maiores desembolsos e, claro, os de recebimentos.
Lembre-se que gerenciar o fluxo de caixa corretamente significa medir a liquidez da empresa, o que ajuda a reduzir ou eliminar surpresas ao atender às necessidades de caixa. Por isso, faça constantemente as perguntas:
- Qual é o saldo de caixa agora?
- Qual é o saldo que eu espero dentro de seis meses?
Concluindo
Basta analisar o fluxo de caixa para ver as mudanças relacionadas à quantidade de dinheiro que sua empresa tem de um ponto para outro. Realizar a Administração de Caixa tem a ver com acompanhar esse fluxo e analisar as alterações a fim de:
- Detectar tendências,
- Preparar a empresa para o futuro e
- Enfrentar quaisquer problemas com a certeza de que o caixa suportará.
Empresas que falham na Administração de Caixa correm o risco de não conseguirem realizar os investimentos necessários para manter-se competitivas, ou, ainda, podem precisar recorrer a empréstimos a fim de continuarem suas operações.
Dinheiro é o combustível dos negócios, exatamente por isso que para uma administração de caixa, o fluxo de caixa deve ser analisado de perto e ações devem ser tomadas assim que desvios forem detectados. Como controller, não esqueça que sua responsabilidade é a de garantir que a projeção de fluxo de caixa seja 100% confiável para que gestores possam tomar decisões com segurança.
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