Quando o assunto é gestão financeira, é comum falarmos em indicadores como faturamento, lucro e EBITDA. Mas o que você acha de ir além e medir o impacto econômico gerado pela sua empresa, ou melhor, como a riqueza criada pelo negócio é distribuída entre funcionários, governo, acionistas e sociedade? Para isso existe um demonstrativo contábil chamado de Demonstração do Valor Adicionado (DVA).
Algumas empresas têm a obrigatoriedade de elaborá-lo (mas não vamos dar spoilers na introdução). Apesar disso, todas - independentemente de serem obrigadas ou não - podem encontrar na DVA uma aliada para fortalecer a gestão financeira.
Quer saber mais? A seguir, entenda o que é o Demonstrativo do Valor Adicionado, para que ele serve, quais as diferenças entre DVA e DRE, e por que acompanhar esse relatório pode trazer vantagens competitivas para o seu negócio.
- 1 - ?DVA é um relatório contábil que apura o valor gerado por uma empresa em um determinado período?:
- 2 - ?...e como esse valor foi distribuído entre os participantes e geradores de produção.?
- Transparência e comunicação com stakeholders
- Melhor acompanhamento do impacto econômico e social da empresa
- Comparação com outras empresas do setor
- DVA na prática
- Primeira parte da Demonstração de Valor Adicionado
- Segunda parte da Demonstração de Valor Adicionado
O que é a Demonstração do Valor Adicionado (DVA)?
A Demonstração de Valor Adicionado, ou simplesmente DVA, é um relatório contábil que apura o valor gerado por uma empresa em um determinado período e como esse valor foi distribuído entre os participantes e geradores de produção. Para ajudar você a entender melhor, vamos separar a explicação em duas partes:
1 - “DVA é um relatório contábil que apura o valor gerado por uma empresa em um determinado período”:
De uma forma resumida, toda organização financeiramente saudável oferece produtos e serviços cujo valor é maior do que a soma dos fatores necessários para a sua produção. Por exemplo, imagine uma indústria que fabrica móveis. Ela adquire matéria-prima, como madeira e ferragens, paga energia elétrica, contrata mão de obra e utiliza tecnologia para transformar esses insumos em produtos acabados.
O preço de venda dos móveis no mercado reflete não apenas o custo desses insumos, mas também o valor adicionado pela empresa ao longo do processo produtivo. Esse valor adicional representa a riqueza gerada pelo negócio e é justamente isso que a DVA busca demonstrar.
2 - “...e como esse valor foi distribuído entre os participantes e geradores de produção.”
O relatório de DVA possui duas seções principais. A primeira refere-se à diferença entre a receita da empresa e os insumos adquiridos de terceiros. Chamada de Valor Adicionado Bruto (VAB), essa seção apresenta o montante de riqueza efetivamente criado pela organização antes da distribuição aos stakeholders.
A segunda apresenta a Distribuição do Valor Adicionado (e é daqui que vem a segunda parte da explicação do conceito de DVA). Isso porque, nesta parte do demonstrativo é detalhado como a riqueza gerada foi distribuída entre os principais agentes econômicos. Esses agentes podem ser:
- Pessoal e encargos: remunerações, benefícios e encargos sociais.
- Imposto, taxas e contribuições: federais, municipais e estaduais.
- Remuneração de capitais de terceiros: juros pagos a terceiros, aluguéis e outros valores pagos a terceiros, como royalties, franquias, direitos autorais etc.
- Remuneração de capitais próprios: juros sobre o capital próprio, dividendos, lucros retidos/prejuízo do exercício e participação dos não-controladores nos lucros retidos (só na consolidação).
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Diferença entre DVA e DRE
Você entendeu o que é a Demonstração do Valor Adicionado. Antes de trazer a diferença entre DVA e DRE, vale reforçar que o Demonstrativo de Resultados do Exercício é um relatório contábil, bastante detalhado, que mostra uma síntese econômica completa das atividades operacionais e não operacionais de uma empresa em um determinado período de tempo.
Como você pode ver, tanto a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) quanto a Demonstração do Valor Adicionado (DVA) compartilham informações financeiras. Contudo, cada relatório tem um objetivo distinto, pois enquanto a DRE foca na rentabilidade e no desempenho financeiro da empresa, a DVA destaca o impacto econômico e social da empresa na economia.
Resumindo:
- DRE: apresenta o resultado econômico da empresa, evidenciando o lucro ou prejuízo em um período. Ele detalha receitas, custos, despesas, impostos e o resultado final para os acionistas.
- DVA: foca no impacto econômico e social da empresa. O relatório evidencia a geração e distribuição da riqueza criada pela organização, indicando como o valor adicionado foi distribuído entre empregados, governo, financiadores e acionistas.
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Para que serve a Demonstração de Valor Adicionado?
Como você viu no conceito de DVA, ela não apenas revela o impacto financeiro da empresa, mas também fornece uma visão clara sobre sua contribuição econômica e social. Ou seja, ela vai além dos números.
Isso já evidencia a importância desse relatório, afinal, ele mostra com transparência como a riqueza gerada pela organização é distribuída entre os diferentes agentes econômicos, incluindo a sociedade.
Por falar em sociedade, além de a Demonstração de Valor Adicionado ser um importante indicador interno, também é uma ferramenta valiosa para órgãos públicos e entidades governamentais. Ao analisar os dados apresentados no relatório, é possível avaliar o impacto econômico da empresa em determinada região, algo que pode auxiliar na tomada de decisões sobre incentivos fiscais, políticas de desenvolvimento e até mesmo na atração de novos investimentos.
Quais empresas precisam elaborar a DVA?
Sem mais suspenses, a obrigatoriedade da DVA está descrita na Lei das S/A (Lei 6.404/76). Veja o que diz a legislação (grifamos a parte que interessa):
“Art. 176. Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras, que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício:
I - balanço patrimonial;
II - demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados;
III - demonstração do resultado do exercício; e
IV – demonstração dos fluxos de caixa; e (Redação dada pela Lei nº 11.638,de 2007)
V – se companhia aberta, demonstração do valor adicionado. (Incluído pela Lei nº 11.638,de 2007)”.
Matando a charada: a elaboração do Demonstrativo de Valor Adicionado é obrigatória para as empresas de capital aberto a cada exercício contábil.
Benefícios da Demonstração do Valor Adicionado para a gestão financeira
Empresas de capital aberto, com ações negociadas na Bolsa, são obrigadas a elaborarem o relatório de DVA. Entretanto, não é apenas por questões legais que o relatório deve ser considerado. Mesmo se uma empresa não possua tal obrigação, a DVA traz diversas vantagens. Dê só uma olhada:
Transparência e comunicação com stakeholders
Uma das maravilhas da Demonstração do Valor Adicionado é justamente permitir que stakeholders compreendam como a organização gera e distribui valor. Sobre a distribuição de valor, lembre-se que, como explicado no início, a DVA revela para onde vai a riqueza gerada pela empresa (governo, colaboradores etc.) e qual seu impacto em diferentes partes da sociedade e da economia.
Isso aumenta a transparência nas relações com acionistas, investidores, colaboradores, fornecedores e até a sociedade em geral, criando uma comunicação mais clara sobre a performance econômica e as escolhas financeiras da empresa.
Melhor acompanhamento do impacto econômico e social da empresa
Se até aqui você entendeu bem o que é DVA, viu que o relatório demonstra o impacto econômico e social e foca na transparência da gestão financeira.
Além disso, a DVA evidencia a contribuição da empresa para o bem-estar econômico da sociedade e sua capacidade de gerar empregos e renda. Isso acontece pois o relatório detalha como a riqueza gerada é distribuída entre funcionários (salários e benefícios), governo (impostos), financiadores (juros), acionistas (dividendos) e reinvestimentos.
Além disso, o demonstrativo também pode ilustrar como a empresa impacta positivamente a sociedade e o meio ambiente por meio de suas decisões financeiras, evidenciando a governança responsável e o compromisso com um futuro sustentável. Isso pode ampliar o acesso ao capital e fortalecer a posição de uma organização no mercado.
Comparação com outras empresas do setor
A DVA também atua como ferramenta estratégica, pois fortalece a transparência corporativa, oferecendo insights sobre a eficiência da empresa na geração de valor. Não apenas isso, mas também permitindo que gestores e investidores compreendam a real contribuição da empresa para a economia.
Destacamos ainda que analisar e comparar DVAs de negócios de um mesmo setor é uma maneira de identificar quais geram mais riqueza e de que forma a distribuem, auxiliando na tomada de decisões estratégicas.
Por exemplo, se duas companhias de um mesmo setor possuem receitas similares, mas uma delas apresenta uma maior proporção de valor distribuído para remuneração de empregados e reinvestimentos, isso pode indicar um modelo de negócios mais sustentável e voltado para o crescimento.
Como elaborar a DVA?
Falou em DVA, falou em DRE. Por quê? Rima à parte, a elaboração do Demonstrativo de Valor Adicionado depende das informações financeiras extraídas do relatório de Demonstração de Resultado do Exercício. O motivo é que, por refletir o desempenho econômico, o DRE traz detalhes sobre as receitas, custos, despesas e o lucro ou prejuízo do período.
Entenda como os dados da DRE são usados para construir a DVA:
- A Receita Bruta da empresa (isto é, o total de vendas feitas pela empresa, sem considerar descontos, devoluções ou impostos incidentes) é o primeiro dado extraído da DRE.
- Da Receita Bruta são deduzidos os impostos que incidem sobre as vendas, como ICMS, IPI, PIS e Cofins. Assim, tem-se a Receita Líquida de Vendas.
- A partir da Receita Líquida, calcula-se o Valor Adicionado Bruto (VAB). O VAB representa a riqueza gerada pela empresa em seu processo produtivo, antes da distribuição a trabalhadores, governo, acionistas e outros stakeholders. Para calculá-lo, é preciso subtrair o custo dos insumos adquiridos de terceiros da receita líquida. Esses insumos podem ser matérias-primas, mercadorias para revenda, energia, serviços de terceiros, entre outros.
- Agora, é hora de distribuir o valor gerado. O Valor Adicionado Bruto será dividido nas seguintes categorias:
- Pessoal e encargos: remunerações, benefícios e encargos sociais.
- Imposto, taxas e contribuições: federais, municipais e estaduais.
- Remuneração de capitais de terceiros: juros pagos a terceiros, aluguéis e outros valores pagos a terceiros, como royalties, franquias, direitos autorais etc.
- Remuneração de capitais próprios: juros sobre o capital próprio, dividendos, lucros retidos/prejuízo do exercício e participação dos não-controladores nos lucros retidos (só na consolidação).
5. Resultado: por fim, você terá a DVA completa, que mostra de forma detalhada o quanto foi gerado, quanto foi distribuído entre os stakeholders e qual foi a contribuição da empresa para o desenvolvimento econômico e social.
DVA na prática
Explicação boa é explicação completa, concorda? Pensando em ajudar no entendimento da DVA, veja como é a sua estrutura:
Primeira parte da Demonstração de Valor Adicionado
Receitas (valores brutos, com impostos)
- 1.1 Venda de mercadorias, produtos e serviços
- 1.2 Outras receitas
- 1.3 Resultados não operacionais (ganho de capital)
- 1.4 Provisão para créditos de liquidação duvidosa – Constituição/Reversão
Insumos adquiridos de terceiros (com ICMS e IPI)
- 2.1 Custo dos produtos, das mercadorias e dos serviços vendidos (valores pagos a terceiros, não inclui gastos com pessoal próprio)
- 2.2 Materiais, energia, serviços de terceiros
- 2.3 Perda/recuperação de valores ativos
- 2.4 Outros
Cálculo do Valor Adicionado
- 3 Valor Adicionado Bruto (= 1 - 2)
Retenções
- 4.1 Depreciação, amortização e exaustão
Valor adicionado líquido produzido pela entidade
- 5 (= 3 - 4)
Valor adicionado recebido em transferência
- 6.1 Resultado de equivalência patrimonial (pode ser negativo ou positivo)
- 6.2 Receitas financeiras (por exemplo, juros recebidos)
- 6.3 Outras receitas (incluem aluguéis recebidos, direitos de franquia, etc.)
Valor adicionado total a distribuir
- 7 (= 5 + 6)
Segunda parte da Demonstração de Valor Adicionado
Distribuição do valor adicionado
Pessoal
- 8.1.1 Remuneração direta (salários, 13º, férias, comissões, horas-extras, dentre outros)
- 8.1.2 Benefícios (plano de saúde, alimentação, transporte etc.)
- 8.1.3 FGTS
Impostos, taxas e contribuições
- 8.2.1 Federais
- 8.2.2 Estaduais
- 8.2.3 Municipais
Remuneração de capitais de terceiros
- 8.3.1 Juros (pagos a terceiros)
- 8.3.2 Aluguéis
- 8.3.3 Outras (outros valores pagos a terceiros, como royalties, franquias, direitos autorais etc.)
Remuneração de capitais próprios
- 8.4.1 Juros sobre o capital próprio
- 8.4.2 Dividendos
- 8.4.3 Lucros retidos/prejuízo do exercício
- 8.4.4 Participação dos não-controladores nos lucros retidos (só na consolidação)
Concluindo
O relatório de Demonstração do Valor Adicionado (DVA) oferece insights valiosos sobre a sustentabilidade e impacto econômico de uma empresa. Conforme a Lei 6.404/76, a elaboração do documento é uma obrigatoriedade para empresas de capital aberto.
No entanto, muito mais do que um dever, acompanhar de perto as informações que ele apresenta é essencial para uma gestão estratégica eficiente, que vai além dos números financeiros tradicionais. Por esse motivo, a DVA também é um importante instrumento para as demais organizações.
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