Vivemos em um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo, ou, em outras palavras, no mundo VUCA (sigla para o inglês Volatile, Uncertain, Complex and Ambiguous). Em um cenário econômico que, além dessas quatro características, é também competitivo, empresas precisam ser inteligentes para explorar oportunidades de crescimento de modo sustentável e estratégico.
Nesse contexto, os dados financeiros são essenciais na busca por aumentar os lucros e reduzir despesas. A partir deles, os riscos podem ser mais bem avaliados a fim de que tomadas de decisão tenham mais embasamento (e precisão). Existem dois indicadores que ajudam nessa avaliação: endividamento e alavancagem financeira.
Se é eficiência financeira que você busca, é essencial entender ambos os termos. A seguir, veja como eles podem contribuir na rentabilidade e estabilidade da sua empresa.
- Endividamento Geral (EG)
- Composição do Endividamento (CE)
- Participação de Capital de Terceiros (PCT)
- Imobilização dos Recursos a Longo Prazo (IRLP)
- Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL)
- Grau de Alavancagem Financeira (GAF)
- Grau de Alavancagem Operacional (GAO)
Endividamento e alavancagem financeira: entendendo os conceitos
Antes de qualquer coisa, precisamos esclarecer os dois conceitos para deixar tudo bem claro a você. Então, vamos lá:
O que é endividamento?
O endividamento é uma forma de a empresa melhorar(no curto prazo) a Necessidade de Capital de Giro (NCG). Para isso, a organização pode recorrer ao capital de terceiros, como por meio de empréstimos ou antecipação de recebíveis, por exemplo.
Existem ainda outras formas de resolver problemas de NCG, como comentamos neste artigo, no entanto, entenda que em todas elas a empresa, por precisar incrementar o capital de giro com uma certa rapidez, acaba criando dívidas.
Na maioria dos casos, o endividamento acontece devido à falta de planejamento financeiro. Além disso, como vemos acontecer com muitas organizações por aí, negócios que não possuem a cultura do planejamento e controle orçamentário são mais suscetíveis ao endividamento.
Entretanto, vale lembrar que nem toda dívida é ruim. Isso mesmo! A máxima de que “existe dívida boa” é muito verdadeira. É o caso de quando uma empresa decide realizar um investimento para atingir um objetivo, como reduzir custos ou aumentar as vendas.
Para saber se esse endividamento é realmente saudável, a controladoria costuma avaliar a viabilidade do investimento considerando itens como:
- Custo da dívida ao longo do tempo;
- Aumento de receita esperado;
- Impacto das receitas no fluxo de caixa.
Em outras palavras, uma dívida boa (ou sadia) é contraída com o objetivo de reduzir custos e ampliar a receita. Além do mais, ela não compromete o fluxo de caixa.
Como comentamos, os controllers são os profissionais capazes de analisar se o endividamento trará os resultados esperados. Indicadores como Payback e Taxa Interna de Retorno são avaliados nesse caso, além de alguns outros.
Aqui não iremos nos prolongar no assunto, mas você encontra explicações bem detalhadas sobre esses indicadores em um e-book completíssimo. Para baixá-lo gratuitamente, clique na imagem abaixo:
O que é alavancagem financeira?
Toda empresa que deseja crescer sabe que não tem jeito: uma hora ou outra será necessário injetar dinheiro. Conforme comentamos acima, para isso, muitos negócios recorrem a capital de terceiros (contraindo, nesse caso, o que chamamos de dívida sadia).
Observe que nessa situação, a empresa faz um esforço mirando um resultado melhor no futuro, certo? Com isso em mente, entenda que quando um negócio está alavancando, ele está multiplicando a sua capacidade de realizar alguma atividade que não seria possível com o capital próprio.
Entendido isso, observe que a alavancagem financeira se refere ao nível de endividamento utilizado para a maximização do retorno do capital investido. Ou seja, ela tem a ver com o montante da dívida na estrutura de capital da empresa para que sejam comprados mais ativos.
Então, para o conceito ficar bem claro, anota aí:
- Alavancagem Financeira está relacionada com a captação de recursos de terceiros para financiar investimentos. O resultado pode ser aumento na produção, nas vendas e nos lucros.
Destacamos que além da alavancagem financeira existe a alavancagem operacional. Explicamos bem essas diferenças neste artigo, mas para você ter uma ideia aqui, a alavancagem operacional é medida pela proporção dos custos fixos em relação aos custos variáveis.
Quais os principais indicadores de endividamento e alavancagem financeira?
Agora que você tem uma ideia melhor sobre endividamento e alavancagem financeira, confira os principais indicadores:
Endividamento Geral (EG)
Esse indicador identifica o quanto o endividamento representa do total de ativos. Colocando em outros termos, o quão comprometidos estão os ativos da empresa para financiar o capital de terceiros.
O cálculo é simples, sendo que é necessário pegar o total de capital de terceiros (o qual é composto pelos passivos de curto e de longo prazo) e dividir pelo total de ativos da empresa. Relembrando:
- Ativos são direitos e Passivos são obrigações;
- Longo prazo representa os próximos exercícios (anos seguintes). Já curto prazo é o período do exercício (ano corrente).
Para encontrar o valor percentual, multiplica-se o resultado por 100. Sendo assim, a fórmula é:
EG = (Capital de Terceiros / Ativos) x 100
Via de regra, quanto menor o EG, melhor a empresa está. Do contrário, ou seja, um alto índice de endividamento geral mostra que a organização possui uma alta dependência do capital de terceiros.
Todavia, como na vida de um controller nem tudo é tão “preto no branco”, lembre-se que o resultado desse indicador deve ser analisado com a capacidade de pagamento da empresa.
Composição do Endividamento (CE)
O CE representa o percentual da dívida de curto prazo em relação ao total das dívidas. Ou seja, mostra se o endividamento é mais de curto ou longo prazo.
Para calculá-lo, basta dividir o passivo de curto prazo pela soma do passivo de curto prazo com o passivo de longo prazo. Em seguida, multiplica-se o resultado por 100. Veja a fórmula:
CE = [Passivo de curto prazo / (Passivo de longo prazo + Passivo de curto prazo)] x 100
Quanto menor for o resultado, melhor, pois mostra que a empresa possui um tempo maior para quitar as dívidas.
Para exemplos de cálculos do EG e CE, recomendamos a leitura:
Participação de Capital de Terceiros (PCT)
O PCT mede a proporção dos recursos financeiros provenientes de fontes externas. Em termos contábeis, corresponde a todo o Passivo Exigível (obrigações da empresa com terceiros).
Ele é calculado pela fórmula:
PCT = (Capital de Terceiros / (Capital Próprio + Capital de Terceiros)) * 100%
Seu resultado indica a proporcionalidade entre o capital externo e o próprio. Quanto mais alto for o PCT, maior é o grau de endividamento, o que pode aumentar o risco financeiro e a exposição a variações nas taxas de juros e condições de mercado.
Imobilização dos Recursos a Longo Prazo (IRLP)
O IRLP mostra o quanto a empresa aplicou, de recursos de longo prazo e do patrimônio líquido, no seu capital imobilizado. A fórmula para encontrar este indicador é a seguinte:
IRLP = Imobilizado / (Exigíveis de Longo Prazo + Patrimônio Líquido)
Quanto menor for o IRLP, mais chances a empresa tem de conseguir honrar com seus compromissos.
Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL)
Utilizado para obter informações sobre a estrutura de capital de uma empresa (relação entre capital próprio e de terceiros).
Para calculá-lo, é preciso dividir os Ativos Permanentes (ou Ativos Não Circulantes) pelo Patrimônio Líquido. Em seguida, deve-se multiplicar por 100 para expressar o resultado em porcentagem. Confira:
IPL = (Ativos Permanentes/Patrimônio Líquido) X 100
Quanto menor for esse índice, melhor. Afinal, se a empresa gastar mais recursos nos ativos permanentes (ou seja, nos ativos e investimentos de longo prazo), tenderá a buscar capital de terceiros para as suas atividades diárias.
Grau de Alavancagem Financeira (GAF)
Este indicador mostra o quanto do resultado está comprometido por juros provenientes de capital de terceiros. Basicamente, quanto maior for o GAF da organização, maior será o endividamento e o risco financeiro. A fórmula é a seguinte:
GAF = LAJIR ÷ LAIR
Aqui, vale lembrar que para encontrar o LAJIR (Lucro antes dos juros e imposto de renda) e o LAIR (Lucro antes do imposto de renda), basta analisar a Demonstração do Resultado de Exercício.
O resultado do GAF é expresso em índice. Sua interpretação é a seguinte:
- GAF = 1: alavancagem financeira é nula.
- GAF > 1: mostra que o capital de terceiros está contribuindo para gerar retorno adicional a favor do acionista. Portanto, alavancagem financeira favorável.
- GAF < 1: indica que o capital de terceiros está consumindo o patrimônio líquido. Portanto, alavancagem financeira desfavorável.
Grau de Alavancagem Operacional (GAO)
O GAO mensura o quanto o lucro varia em razão de uma variação nas vendas. Desse modo, se o lucro aumentou 30% para um aumento de 10% nas vendas, dizemos que a alavancagem operacional é de 3.
Ele também mensura a distância que a empresa está do Ponto de Equilíbrio. Isso porque, quanto maior o GAO, mais perto a empresa encontra-se do Ponto de Equilíbrio.
O Grau de Alavancagem Operacional ainda lida com outro conceito, que é o de Margem de Contribuição. Assim, quanto maiores forem os Custos Fixos em comparação à Margem de Contribuição, maior será o GAO. Para calculá-lo, temos a fórmula:
GAO = Variação Percentual no Lucro Operacional (Resultado) / Variação Percentual nas Vendas
Os tipos de Alavancagem Operacional podem ser:
- Grau de alavancagem negativa: quando um aumento na receita bruta provoca uma queda no resultado operacional.
- Grau de alavancagem modesta: quando a empresa opera no prejuízo e seus custos fixos estão acima do dobro da margem de contribuição.
- Grau de alavancagem em equilíbrio: quando a empresa opera no prejuízo e seus custos fixos são exatamente o dobro da margem de contribuição.
- Grau de alavancagem operacional: é o que ocorre na maioria dos casos, ou seja, um aumento ou uma diminuição da receita bruta gera um aumento ou uma diminuição do resultado operacional num percentual sempre maior.
Para exemplos de cálculos do GAF e GAO, recomendamos a leitura:
👉 Alavancagem Financeira e Operacional: crescer com capital de bancos e investidores é uma boa opção?
Endividamento e alavancagem: o que fazer?
O endividamento pensando em alavancagem pode ser uma boa opção se pensarmos em eficiência operacional e crescimento. Contudo, além de analisar os indicadores financeiros, é importante que os profissionais da área de planejamento e controladoria considerem alguns pontos para saberem se devem ou não seguir com os esforços de se endividar para alavancar.
Para começar, quanto mais dívidas uma empresa tem, mais frágil é sua estrutura financeira. Em um cenário de retração de mercado e redução nas vendas, isso pode ser perigoso. O motivo é que, quanto mais a organização compromete seus lucros com os juros das dívidas, mais riscos ela tem de não conseguir efetuar seus pagamentos.
Além disso, é imprescindível ter um controle interno preciso, pois assim será possível fazer uma gestão correta do fluxo de caixa e evitar que as despesas sejam maiores que as receitas. Isso impedirá que a empresa entre em uma bola de neve de dívidas.
Vale lembrar ainda que tudo também depende da fase que a organização e o mercado se encontram. Buscar alavancagem numa fase cíclica de contração pode ser um tiro no pé.
Para entender se o momento é o ideal, a análise de cenários e o orçamento empresarial são duas ferramentas essenciais para verificar a viabilidade da alavancagem financeira em comparação com o endividamento que necessitará ser obtido para tal.
Concluindo
Quanto mais alto for o nível de alavancagem, maiores serão os riscos. Por essa razão, é importante que você tenha em mãos as ferramentas certas para analisar se o risco vale a pena.
Por “risco”, entenda também avaliar o grau de endividamento que será necessário assumir e se, obviamente, a empresa não terá suas operações comprometidas por conta disso. Algo básico, mas que muitas empresas ainda pecam em deixar de lado, é o acompanhamento de seus resultados pelo controle orçamentário.
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Esperamos que este artigo tenha sido útil. Para mais conteúdo como este, não deixe de acompanhar nossos outros materiais no blog da Treasy.